Perfuração provocou rompimento em Brumadinho, afirma estudo espanhol
De acordo com simulações, as perfurações geraram uma liquefação, quando um material sólido se torna líquido

Foto: Reprodução/G1
Um estudo feito pela Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, certificou que uma perfuração vertical iniciada na barragem da Vale em Brumadinho nos dias que antecederam o rompimento pode ter sido o motivo do desmoronamento da estrutura.
Os resultados foram divulgados pelo MPF (Ministério Público Federal) nesta segunda-feira (4). A pesquisa teve um acordo firmado pelo órgão junto à mineradora Vale. Os dados confirmam a análise da Polícia Federal divulgada em fevereiro deste ano.
Conforme as simulações realizadas pela universidade espanhola, as perfurações geraram o fenômeno chamado de liquefação, registrado quando um material sólido se torna líquido.
"Sob condições de tensão e hidráulicas semelhantes às do fundo do furo B1-SM-13 durante a perfuração, as análises numéricas mostram que, usando-se o modelo constitutivo e os parâmetros adotados para os rejeitos, pode ocorrer a liquefação local devido à sobrepressão de água e sua propagação pela barragem", destaca o estudo estrangeiro.
Na época, a Vale realizava furos para coletar materiais do solo que passariam por uma análise, além de instalar piezômetros, equipamentos utilizados no monitoramento das barragens de mineração.
O documento também destaca que “em sua maioria, os rejeitos da barragem eram fofos, contráteis, saturados e mal drenados, portanto altamente suscetíveis à liquefação”.
O relatório ainda menciona a instalação de um dreno em 2018, que provocou vazamento de lama em alguns pontos da barragem. A situação foi corrigida na época, no entanto, o levantamento aponta que pode ter modificado a estrutura. "Esse incidente provocou um aumento local e temporário nas pressões piezométricas da água e algum abatimento na barragem. Registros sismográficos sugerem que uma liquefação contida pode ter ocorrido na época", indica.
Os pesquisadores também estudaram outros fatores que poderiam ter ocasionado a liquefação, como a ocorrência de tremores de terra ou o fenômeno do creep, que causa deformações internas contínuas e se desenvolvem com o tempo. Mas todas as hipóteses foram descartadas.
"As simulações da história da barragem não mostram sinais de colapso iminente da barragem no momento da ruptura, mesmo quando fenômenos de creep e de aumento de precipitação são incorporados na análise. Na verdade, a estabilidade também é obtida mesmo que a análise seja continuada por um período de mais cem anos", detalha o levantamento.