PF investiga grupo que desviou R$ 40 milhões do Farmácia Popular para financiar tráfico internacional
Esquema envolve rede de farmácias fantasmas

Foto: Elza Fiuza/ Agência Brasil
Um grupo criminoso usou farmácias de fachada em diversas regiões do Brasil para desviar cerca de R$ 40 milhões do Programa Farmácia Popular. A verba era utilizada para lavar dinheiro do tráfico e financiar a compra de cocaína na Bolívia, Colômbia e Peru.
A investigação da Polícia Federal foi divulgada em fevereiro deste ano pela corporação e detalhada no programa Fantástico da TV Globo, no domingo (20). Os crimes envolviam uso de CPFs e endereços de clientes, além da compra e venda de CNPJs por laranjas.
Segundo a PF, o grupo adquiria empresas que estavam licitamente cadastradas no Programa Farmácia Popular, mas que haviam encerrado suas atividades. O grupo realizava as alterações societárias e, na maioria dos casos, vinculava as Pessoas Jurídicas a pessoas interpostas.
Com as alterações feitas, ocorria o aumento do número de lançamentos de medicamentos comercializados por meio do programa seja na modalidade gratuidade ou subsidiada, para conseguir a liberação dos pagamentos.
As pistas começaram a surgir em 2022, após a apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia (GO), com um caminhoneiro que havia saído de Rondônia. Parte da carga foi entregue em Ribeirão Preto (SP), e o restante foi deixado em Luziânia, onde seria recebida por Clayton Soares da Silva, dono de farmácias no Rio Grande do Sul e em Pernambuco.
Clayton e o caminhoneiro foram presos em flagrante, e no celular do empresário foram encontrados documentos e mensagens que revelaram o funcionamento do grupo. Segundo a PF, Clayton chegou a ser candidato ao cargo de Vereador nas eleições municipais do ano de 2024.
Através das mensagens, a polícia chegou até Fernando Batista da Silva, conhecido como “Fernando Piolho”, apontado como chefe da organização. Ele usava o nome da filha para abrir empresas e movimentar dinheiro sem levantar suspeitas. Uma das empresas, a Construarte, teria recebido mais de R$ 500 mil de pessoas investigadas ou presas por tráfico.
A PF afirma ainda que Fernando tinha ligação com membros do Comando Vermelho e que o grupo repassava dinheiro a pessoas em cidades próximas à fronteira com o Peru e a Bolívia. Entre os beneficiários está a esposa de um integrante do Clã Cisneros, organização criminosa peruana que opera laboratórios de cocaína.
Os investigadores descobriram ainda farmácias registradas em lotes vazios, como uma que funcionaria em um terreno com mato, usando telefone de João Pessoa (PB). O número era de Célia Aparecida de Carvalho, apontada como fornecedora de CNPJs para o esquema.
Para a fraude, eram realizadas vendas simuladas de medicamentos que, na prática, nunca chegaram a ser fornecidos ao beneficiário declarado. Os investigados lançaram dados de consumidores que sequer possuem conhecimento quanto a utilização indevida de suas informações.
Ainda segundo a PF, durante o funcionamento dos estabelecimentos, os repasses mensais do programa não ultrapassavam R$ 5 mil. Com o início das fraudes, cada farmácia passava a receber valores que giravam em torno de R$ 60 a R$ 90 mil por mês.
Em fevereiro deste ano, 106 ordens judiciais foram expedidas pela Justiça Federal e cumpridas em Goiás, Paraíba, Mato Grosso, Acre e Minas Gerais. Foi determinado ainda o bloqueio de mais de R$ 39 milhões dos investigados.