Rui Costa classifica como 'inadmissível' os EUA abrirem investigação contra 25 de Março e PIX
Ministro-chefe da Casa Civil também criticou a 'intromissão' do governo Trump no Poder Judiciário brasileiro

Foto: Farol da Bahia
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), reagiu nesta segunda-feira (21) à investigação comercial aberta pelos Estados Unidos para apurar se políticas adotadas pelo Brasil estariam prejudicando o comércio norte-americano. O petista classificou como "inadmissível" a acusação de que o comércio informal da Rua 25 de Março, em São Paulo, e o sistema de pagamentos Pix representariam ameaça à economia dos EUA.
"É algo impensável, inadmissível e eu diria até inacreditável, que você tenha uma das duas maiores potências do mundo falar do comércio popular da 25 de Março, em São Paulo. Ninguém imaginaria um documento oficial da principal potência mundial falando do PIX, que é um meio de pagamento do Brasil", criticou o ministro durante coletiva de imprensa no evento de autorização de novos atos do VLT, em Salvador.
Rui também comentou sobre a recente decisão do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, de revogar o visto do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de "aliados e familiares" dos magistrados. Para ele, a reação dos EUA é uma tentativa de interferência nas decisões do Judiciário brasileiro.
"Você imaginar que um presidente desse está suspendendo o visto de ministro da Suprema Corte. Imagine se o Brasil adotasse uma medida ou qualquer outro país, a Inglaterra, a França, qualquer país, e se metesse no julgamento da Suprema Corte americana? É inadmissível isso. Isso não dá pra entender no mundo moderno, no mundo atual, algo dessa proporção", disse.
Integração com indústria americana preocupa mais que commodities, diz ministro
Durante o evento, que contou com a presença do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e personalidades políticas da Bahia, o ministro da Casa Civil também citou os possíveis impactos econômicos, caso a taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos entre em vigor a partir do dia 1º de agosto. Segundo ele, as commodities não são motivo de grande preocupação, pois podem ser redirecionadas a outros mercados com mais facilidade.
"Sobre o comércio, nós vamos insistir no diálogo, vamos insistir na negociação. Eu diria que as commodities são o que menos preocupa. Por um motivo, você realoca com certa facilidade para outros mercados", explicou.
No entanto, o petista destacou que o maior desafio envolve produtos e setores com forte integração com a indústria norte-americana, a exemplo da a aviação civil, onde a maior parte das peças utilizadas dos aviões são produzidas nos EUA.
"O que mais preocupa são aquelas que têm mais integração. A indústria de aviação tem muita integração com a indústria americana. No Brasil, a Embraer, por exemplo, se destacou no mundo e nas principais fabricantes de aviões do mundo. Tem hoje uma encomenda grande e, muitas das peças que são utilizadas no avião, são produzidas nos Estados Unidos. Isso é mais difícil de mudar de uma hora para outra do que minério, do que o petróleo. O petróleo não tem nenhuma dificuldade, o café não também não. Outras mercadorias não têm dificuldade porque são commodities. Você pode demorar um mês, mas você aloca rapidamente sua demanda para o resto do mundo", acrescentou o ministro.
Rui Costa também afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em busca de alternativas para ampliar as exportações. "O Brasil está aumentando a exportação para o resto do mundo. Até dezembro, o presidente Lula quer assinar o acordo Mercosul com a União Europeia", disse.
"A própria União Europeia está anunciando hoje que vai adotar medidas para responder aos Estados Unidos, porque os Estados Unidos tarifou em 30% da União Europeia. Então, ele resolveu brigar com o mundo inteiro. Com a Europa, com o Canadá, com o México, com a China. Está brigando com o mundo inteiro e o Brasil é mais um na fila", finalizou o petista.
LEIA TAMBÉM:
• Trump anuncia taxas de 50% sobre produtos importados do Brasil
• Tarifa de 50% dos EUA leva Lula a convocar reunião emergencial com equipe econômica e diplomática
• "O Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém", afirma Lula em resposta às taxas de 50% de Trump
• Governo Lula pode solicitar aos EUA 90 dias para negociar taxação, diz presidente da Apex
• Rui Costa afirma que reciprocidade à tarifa de 50% dos EUA será adotada em conjunto de medidas: "Brasil não ficará de cabeça baixa"
• Taxação: "Estaremos prontos para agir com equilíbrio e firmeza em defesa da nossa economia", diz Congresso
• Lula afirma que Brasil pretende negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump
• Vídeo: "Se ele vai cobrar 50% de nós, vamos cobrar 50% dele", diz Lula sobre tarifaço de Trump
• Governo vai montar grupo de trabalho para estudar retaliação aos EUA após Trump anunciar tarifa de 50% ao Brasil
• Tarifa de 50% dos EUA leva Lula a convocar reunião emergencial com equipe econômica e diplomática
• Trump diz que Bolsonaro é alvo de perseguição no Brasil: 'não é culpado de nada'
• "Somos um país soberano", Lula reage após declaração de Trump sobre Bolsonaro
• Eduardo Bolsonaro diz que fala de Trump sobre perseguição ao seu pai não será 'única novidade' dos EUA
• Bolsonaro agradece apoio de Trump e afirma que ação do golpe é uma "clara perseguição política"
• Trump ameaça taxar em mais 10% países que se 'alinharem' ao Brics; nações que integram o bloco desmentem política anti-americana
• Governo Lula avalia que ameaças de Trump fortalecem posição do Brics contra tarifas
• Lula volta a criticar ameaças de Trump sobre taxação e defende "soberania" do Brics: "Não aceitamos intromissão de quem quer que seja"
• Barroso diz em carta que tarifa de Trump é fundada em "compreensão imprecisa dos fatos" e defende atuação do STF; Leia
• Após tarifas de Trump, aprovação de Lula atinge o maior patamar desde outubro de 2024, diz AtlasIntel
• Superávit comercial em relação com o Brasil é instrumento contra implementação de tarifas no Congresso dos EUA