Privilégio excludente e machista

Confira o editorial desta segunda (20)

[Privilégio excludente e machista]

FOTO: Divulgação

Uma reportagem do último fim de semana do jornal O Estado de S. Paulo, sobre os R$ 30 milhões pagos anualmente pelo Congresso a filhas solteiras de ex-parlamentares e ex-servidores, escancara a hipocrisia deslavada da militância por direitos humanos e igualdade de salário entre gêneros. Quando se trata de uma relevante quantia de dinheiro que chega fácil e ainda por cima dentro da lei, nada mais importa: aceita-o de cara lavada, sem contestar. 

Um privilégio excludente, sem dúvida. Os R$ 16,8 mil mensais pagos a estas mulheres são provenientes de cofres públicos, ou seja, é a população que garante – pasmem – o privilégio deste repasse anual de quase R$ 220 mil simplesmente por serem solteiras e filhas de ex-políticos que um dia passaram pela Câmara dos Deputados ou Senado. 

É excludente porque, obviamente, poderia ser empregado em políticas públicas, digamos, com uma justificativa um pouco mais convincente. Ser solteira pede mais aporte governamental do que ser desempregada ou passar fome? 

É curioso notar que, entre as 194 mulheres que recebem esta pensão, está uma filósofa e militante feminista Helena Hirata (filha do ex-deputado federal por São Paulo João Sussumu Hirata), que vive há 50 anos em Paris e prega que nunca precisou deste dinheiro, mas que aceita por recomendação do advogado. Existe uma latente hipocrisia aqui: em Helana receber, sem precisar, e independente do que ela faz com o dinheiro, e receber uma pensão do governo ao mesmo tempo que milita por direitos e tratamentos iguais entre homens e mulheres. 

São estas pessoas que recebem uma quantia que poderia ajudar gente que realmente necessita. 

Incomoda também o caráter machista desta lei, apesar de quem a elaborou e todas aquelas pessoas (leia-se congressistas) que votaram, estavam apenas preocupados em injetar dinheiro na família, numa tacanha manobra para garantir o sustento da própria prole. Mas soa, nas entrelinhas, como se a filha que não casasse, seria incapaz ganhar o sustento necessário para viver sem uma “ajuda de custo” do governo. Aqui, a sombra do patriarcado é latente.


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