• Home/
  • Notícias/
  • Bahia/
  • Professor de artes marciais denuncia caso de racismo em supermercado de Salvador

Professor de artes marciais denuncia caso de racismo em supermercado de Salvador

Três jovens do Projeto Boa Luta foram vítimas de seguranças do estabelecimento

Por Ane Catarine Lima
Às

Professor de artes marciais denuncia caso de racismo em supermercado de Salvador

Foto: Reprodução/Instagram

O Brasil é um país fundado sob o mito da democracia racial que, sobretudo, propaga a ideia de igualdade entre as raças. No entanto, percebe-se o racismo no Brasil na tentativa do extermínio da juventude negra e nas demais situações onde pessoas de pele clara são privilegiadas e, portanto, vistas como superiores. Atrelado ao racismo estrutural, mais um caso da violência sistemática institucional foi registrado no dia 19 de janeiro de 2022 no supermercado Big Bompreço, no Salvador Shopping.

Dessa vez, as vítimas foram três jovens integrantes do Projeto Boa Luta, que atende quase 400 jovens em situação de vulnerabilidade social no bairro da Boca do Rio, na capital baiana. Em entrevista ao Farol da Bahia, o professor de artes marciais e presidente do projeto, Yuri Carlton, contou que um adolescente de 14 anos e outro de 15, além de um jovem de 19 anos, foram até o supermercado comprar alguns alimentos e pedir doações para participarem do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu, que está programado para o mês de maio, em São Paulo.

Segundo ele, é comum que os integrantes mais velhos do projeto façam esse tipo de ação com o objetivo de conseguir recursos para campeonatos. Porém, no supermercado, os jovens foram abordados por quatro seguranças sob acusações de furto.  Como os meninos negaram o crime, os profissionais decidiram os levar para uma sala, onde foram agredidos fisicamente e ofendidos com diversos insultos racistas.

“Eles foram ao shopping arrecadar fundos para viajarem para São Paulo. Nisso, foram abordados por quatro seguranças que, depois de os acusarem de roubo, os levaram para dentro de uma sala. Isso tudo no dia 19 de janeiro, dentro do Bompreço. Na sala, os seguranças fizeram o que quiseram com os meninos em termos de agressão física e verbal. Tudo isso por conta do nada, simplesmente do nada. Os meninos não pegaram nada do supermercado, mas foram agredidos desse jeito”, afirmou Carlton.

Yuri afirmou, ainda, que o grupo foi ameaçado. Ainda dentro da sala, um dos seguranças afirmou que, por serem pretos, os meninos "deveriam pegar em armas". No momento, a Polícia Civil investiga a denúncia de ameaça e injúria racial. Ainda em entrevista, Yuri Carlton afirmou que recebeu nesta quarta-feira (2) uma ligação da gerente do supermercado. “Ela me certificou que já tem imagens do caso e que essa não é uma postura comum do Bompreço, que realmente a abordagem foi indevida. Ela me disse, ainda, que os homens já foram afastados”, afirmou o presidente do projeto.

O que dizem os envolvidos

O Farol da Bahia entrou em contato com o Salvador Shopping. Em ligação, a administração do centro de compras reforçou que, até o momento, todas as investigações apontam que “a ocorrência não teve participação de colaboradores do quadro do shopping''. Questionada se alguma ação está sendo tomada para evitar esse tipo de acontecimento, a administração voltou a afirmar que se trata de uma problemática relacionada ao supermercado. No entanto, afirmou estar colaborando com as investigações.

“A administração do empreendimento está apurando o fato e já entrou em contato com os integrantes do Projeto Boa Luta para entender melhor a grave denúncia. Até este momento, todas as informações levantadas apontam para uma ocorrência que não teve participação de colaboradores do quadro do shopping. Todas as informações serão enviadas para a Polícia para apuração dos responsáveis. O empreendimento segue à disposição das autoridades para elucidação do caso e reafirma que não compactua com atos de racismo”, diz a nota do Salvador Shopping.

Já a assessoria do Big Bompreço encaminhou o seguinte posicionamento ao Farol da Bahia: “A empresa afirma que o caso ocorrido não corresponde aos procedimentos e aos valores da companhia. Assim que tomou conhecimento do fato, o Bompreço abriu uma sindicância interna para apurar e tomar todas as medidas necessárias. Reforça que o seu código de ética não tolera nenhuma forma de discriminação e informa que colabora com as autoridades na investigação do caso”.

Questionada sobre a realização de ações efetivas para combater o racismo, a assessoria do supermercado respondeu que “a empresa mantém treinamentos de Ética ligados à diversidade, além de treinamentos dirigidos exclusivamente para equipe de segurança (própria e terceirizada)”.

Jovens negros e racismo

Ao lembrar do assassinato de dois jovens negros que teriam sido entregues a traficantes por seguranças da rede de mercados Atakarejo, Yuri Carlton afirmou que resolveu denunciar para evitar que esse tipo de caso contiue acontecendo. “A gente vê diariamente esses acontecimentos na mídia. Infelizmente, ainda é comum acontecer. É constrangedor falar isso, mas é uma grande verdade”, disse o professor de artes marciais.

“Em Salvador, inclusive, nós temos o caso do Atakarejo que terminou em morte. E, por medo, resolvi denunciar o caso. Quis evitar que esses seguranças cometessem o mesmo erro, que era o que eles pretendiam. No dia 29 de janeiro eles voltaram com um carro e tentaram raptar os meninos”, completou.

Segundo Carlton, é importante que as empresas capacitem os profissionais para evitar que situações de racismo voltem a se repetir. Ele afirmou, ainda, que os três jovens estão preocupados e evitando sair de casa. “Eu resolvi suspender essas ações que nós estamos realizando nas ruas para arrecadar fundos até que tudo se resolva”, concluiu.  


 

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário