Projeto defende tombamento dos carrinhos de café em Salvador

Presente na capital baiana como símbolo importante da cultura popular soteropolitana, os carrinhos de cafezinho podem se tornar o primeiro patrimônio material e imaterial (ao mesmo tempo) a ser reconhecido pela prefeitura. O projeto ‘Salvador Vai de Cafezinho - Programa de Mobilização Social na Perspectiva da Salvaguarda dos Carrinhos de Café’ fomentou um conjunto de ações que visam tornar esse reconhecimento possível. Uma delas é a realização de um concurso virtual ‘Salvador Vai de Cafezinho’, com premiações em dinheiro, que acontece neste sábado (1°).

O diretor artístico do projeto, Edvard Passos, disse ao Farol da Bahia que a primeira ação concreta que deu início a luta pelo reconhecimento destes instrumentos de trabalho aconteceu no último sábado (24). Na ocasião, foi realizada uma oficina de montagem de carrinho de café que, segundo ele, superou as expectativas iniciais e se tornou um documentário. “A gente teve uma surpresa muito positiva. Inicialmente, a gente pensou na oficina como uma aula sobre construção de carrinhos de café. Ficamos à procura de um mestre oficineiro para poder construir esse carrinho e a gente revelar todo o processo de construção, mas a gente conseguiu um cara como Alberto Pitta ‘que é um artista plástico fantástico da cidade e que tem uma relação muito forte com o carrinho de café’. Dessa forma, nós conseguimos agregar um depoimento muito legal de Alberto Pitta sobre o carrinho de café e sobre a história dos concursos desses carrinhos”, disse.

“O artista topou fazer um carrinho de café para a nossa oficina e ficou muito bonito. No evento, eu dei um tema para ele. Pedi um carrinho de café do futuro e ele criou um carrinho que ele mesmo [Alberto Pitta] quando viu disse que se superou, é um carrinho muito bonito. Além de nós termos conseguido um resultado muito bacana com o artista plástico, também agregamos um depoimento do museólogo Eduardo Fróes, que escreveu uma dissertação sobre o carrinho de café nas ruas de Salvador. Sem dúvidas, ele agregou um histórico sobre a história do carrinho de café na nossa cidade, da evolução, do artefato… Foi outro trabalho muito qualificado que agregou muito valor à oficina”, completou.

Além disso, o evento, que é realizado pela Fundação Gregório de Matos (FGM), contou com os depoimentos da performer Ana Dumas sobre o futuro do carrinho e as novas mídias e da gestora Gabriella Melo, que trata do patrimônio cultural. “Acredito que a gente começou fazendo uma simples oficina de construção de carrinho de café e acabou criando um documentário com duração de 1h20. No documentário, é muito reforçada uma das intenções do projeto que é levar à prefeitura um processo de reconhecimento do ofício das atividades dos trabalhadores do carrinho de café”, disse.

Assista a oficina:

Concurso 

Já a segunda ação do projeto acontece neste sábado (1°). No total, 26 carrinhos de café participam de um concurso virtual, que conta com premiações em dinheiro e júri de especialistas. A escolha dos vencedores será a partir de vídeos realizados com celular e enviados à comissão julgadora, formada por Alberto Pitta, Gerônimo Santana, Maria Menezes, pelo fotógrafo Adenor Gondim e pelo diretor do projeto, Edvard Passos. 

Serão selecionados 10 finalistas e os prêmios são de R$ 5 mil, R$ 4 mil e R$ 3 mil, para os três vencedores. Os outros sete finalistas ganham R$ 600, cada. Devido a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o evento acontece de forma virtual. “Estamos todos com uma expectativa muito alta. Por causa dos decretos que proíbem a realização de eventos públicos,  nós decidimos fazer o desfile virtual. Para os inscritos no concurso, esse formato foi uma surpresa desafiadora. Todos eles tiveram que enfrentar obstáculos tecnológicos para enviar os vídeos. Nós já recebemos os vídeos dos 26 participantes e estão fantásticos, teve um participante, inclusive, que fez um carrinho novo para participar do concurso. Tem carrinhos muito talentosos, com muito potencial de reconhecimento até fora da Bahia”, disse Edvard Passos.

O concurso, transmitido ao vivo pelo canal da Fundação Gregório de Matos (FGM) no YouTube, será conduzido pelo ator e roteirista Alan Miranda, que foi convidado por Edvard Passos para viver o personagem fictício Borra, um  vendedor ambulante de cafezinho do futuro que viaja de volta no tempo para reunir os colegas de profissão para juntos lutarem pelo reconhecimento na Câmara de Vereadores do carrinho de café como patrimônio cultural de Salvador. O personagem é uma criação de Edvard, que desde 2010 trabalha com Alan. Borra será o MC do desfile virtual de carrinhos de café.

Ainda de acordo com Edvard Passos, o projeto também deseja chamar a atenção da cidade e dos poderes públicos para este patrimônio cultural absolutamente original e nativo e também dar suporte financeiro, ainda que pequeno, aos participantes. “Nós estamos numa pandemia terrível e pela primeira vez essa premiação será em dinheiro. É uma ação cultural que chega em boa hora para o auxílio ao segmento dos vendedores ambulantes, muito sacrificados pelas restrições sanitárias. Os ‘cafezinhos’ estão num momento ainda mais difícil e a premiação está desenhada para ser ampla, justamente para contribuir com a classe”, disse Edvard Passos.

Exposição fotográfica

A terceira ação do projeto acontece na próxima quarta-feira (5), quando será aberta a Exposição dos Vencedores, que reunirá, virtualmente, os carrinhos dos 10 finalistas, além de imagens inéditas de carrinhos de café, cedidas pelo fotógrafo e pesquisador Adenor Gondim. No site do projeto (veja aqui), além da mostra, estarão descritas todas as ações do projeto e o histórico sobre os carrinhos de café.

“O carrinho de café sempre foi uma verdadeira paixão para mim. São fascinantes, hipnotizantes, tri-eletrizados, ambulantes. Eles são transformadores da paisagem da cidade, com muita irreverência, criatividade e ludicidade. O carrinho de café é resistência, a materialização da inteligência e inventividade na luta contra opressão e pela sobrevivência... Não é à toa que foi surgir justo em Salvador", conclui Edvard.

O projeto Salvador Vai de Cafezinho é uma realização da Fundação Gregório de Matos/ Prefeitura de Salvador, através da Lei Aldir Blanc do Governo Federal e é idealizado e produzido pela Trielétrica com co-produção da Sole Produções.