Síndrome do Impostor: o choque entre a forma como você se vê e o jeito como te enxergam
Especialista explica fenômeno caracterizado pela autossabotagem

Foto: Getty Images
Embora o sentimento de insegurança, incapacidade e não pertencimento seja comum em diversos momentos da vida, especialmente no ambiente acadêmico e profissional, é importante se atentar a quantidade de vezes que esses sentimentos se manifestam. Especialistas afirmam que esses e outros sinais, se sentidos em excesso, são extremamente prejudiciais à saúde e podem ocasionar a Síndrome do Impostor.
O psicólogo Thiago Mangueira Marcos, especialista na Abordagem Centrada na Pessoa e mestrando em Psicologia e Intervenções em Saúde, explicou ao Farol da Bahia que essa síndrome é utilizada para “definir pessoas inseguras em relação à sua competência”. Segundo ele, pessoas diagnosticadas com a síndrome geralmente atribuem o sucesso pessoal à sorte ou a variáveis não controláveis por suas habilidades.
No geral, a Síndrome do Impostor se manifesta na vida de uma pessoa como uma espécie de sabotador que desmerece o próprio esforço e atribui o sucesso ao acaso, à sorte, à intervenção divina ou à atuação de outras pessoas. Além disso, nesse caso, é comum o sentimento de que tudo aquilo que você conquistou não te pertence e, por isso, a qualquer momento alguém vai te desmascarar porque você se enxerga como uma fraude.
“A síndrome também dificulta o engajamento adequado em atividades, prejudicando conhecimento e desempenho por comportamentos de auto sabotagem e atitudes negativas. Esses comportamentos ocorrem frequentemente em ambientes de trabalho ou acadêmicos, gerando disfuncionalidades no aproveitamento de oportunidades. Ocorre analogamente em profissões competitivas, como atletas e empresários ou em profissões nas quais as pessoas são avaliadas e testadas a todo momento, como nas áreas da saúde e educação”, explicou Thiago Mangueira.
O psicólogo afirma ainda que é importante ficar atento às concepções equivocadas da realidade. “Um dos destaques desse conceito é a autopercepção distorcida e depreciada em que esses sujeitos têm das próprias competências e conquistas, sendo classificado por alguns especialistas como uma desordem da auto percepção”, disse. “A dificuldade em reconhecer as realizações gera direto impacto na autoestima e autoconfiança. Mulheres que experienciam o fenômeno do impostor tem a forte crença de que não são inteligentes e estão convencidas de que elas enganam alguém. Estudantes fantasiam que foram admitidos por erro no comitê avaliador, por exemplo”, completou.
Especialistas afirmam que o Fenômeno do Impostor é muito comum em jovens no início de carreira ou em pessoas que têm profissões competitivas. No entanto, qualquer pessoa pode desenvolver esta síndrome, e em qualquer idade, sendo mais comum quando se está em uma posição de ser alvo de julgamentos do desempenho, como ao receber uma promoção no trabalho ou iniciar um novo projeto.
“Os sintomas geralmente são reportados como ansiedade generalizada, depressão, falta de autoconfiança, necessidade de aprovação, frustração e dificuldade de alcançar padrões preestabelecidos. Os pacientes frequentemente têm relatos de altos níveis de cobrança em sua infância”, afirma Thiago Mangueira.
Estima-se que 70% dos profissionais já tenham vivido essa situação em algum ponto da carreira, segundo os dados de uma pesquisa da Universidade Dominicana da Califórnia. Além disso, um levantamento da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) mostrou, em 2018, que 65% dos profissionais ativos no mercado de trabalho já se sentiram impostores.
Para evitar a síndrome, o psicólogo Thiago Mangueira afirma que o autoconhecimento é “fundamental para lidar com os processos psíquicos, mitigando impactos negativos no desenvolvimento”. “Uma vez que reconhecemos esses processos podemos dialogar com nossas questões pessoais ajustando nossa postura de enfrentamento e lidando efetivamente com os pensamentos e comportamentos que surgem. Perceber que uma comparação com o outro é ineficaz e injusta nos dá a oportunidade de regular-se e perceber nossa evolução, contrapondo com outros momentos da nossa vida de maneira mais adequada para identificação das mudanças”, disse.
“Ao lidarmos efetivamente com o Fenômeno Impostor ficamos aptos para tirar proveito dos sentimentos vivenciados, aceitando emoções apontadas socialmente como negativas e acolhendo frustrações como parte do processo de desenvolvimento, não como um reflexo da nossa identidade”, completou.
Como lidar com o Fenômeno Impostor
Os cuidados com o Fenômeno Impostor devem ser conduzidos em acompanhamento profissional e especializado em cuidados relacionados à saúde mental. “Diversas abordagens psicoterapêuticas lidam com as questões psíquicas de maneiras específicas. Não existe um único padrão para lidar com os diversos sofrimentos psíquicos. Todo indivíduo deve ser compreendido como singular em suas vivências e questões. Entretanto, algumas orientações gerais ajudam a regular emocionalmente e superar de maneira efetiva os desafios do desenvolvimento humano”, destaca o psicólogo.
Dicas para superar a síndrome
-Busque ajuda especializada em saúde mental;
-Reconheça o problema e seus impactos;
-Fale sobre o assunto e compartilhe experiências pessoais com sua rede de apoio sem julgamentos;
-Reconheça conquistas, competências e sucessos;
-Desenvolva autoconhecimento;
-Permita-se vivências gradualmente desafiadoras;
-Evite comparações disfuncionais com outros
-Esteja atenta aos feedbacks com compaixão e auto aceitação.