Tarcísio freia ofensiva presidencial enquanto Ratinho Jr. busca políticos de SP por 2026
Governador do PR contatou políticos e empresários paulistas para se viabilizar como alternativa

Foto: Marcelo Camargo/Valter Campanato/Agência Brasil
BRUNO RIBEIRO, JULIANA ARREGUY E MARIANNA HOLANDA
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), freou na última semana a ofensiva para uma eventual candidatura presidencial em meio a uma onda de desânimo na direita com a resistência do clã Bolsonaro em se decidir sobre 2026.
Com Tarcísio desacelerando na empreitada, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), buscou contato com políticos e empresários paulistas ao longo da semana para se viabilizar como alternativa.
Aliados de Tarcísio afirmam que a perspectiva de consolidação dele como adversário de Lula (PT) em 2026 ficou mais distante após derrotas de seu campo político, como a rejeição à PEC da Blindagem, o enfraquecimento da proposta de anistia e a adesão da população aos atos no domingo passado (21) contra as duas pautas.
Além disso, aliados do governador de São Paulo e de Jair Bolsonaro (PL) têm manifestado preocupação com movimentos de pessoas próximas ao ex-presidente que tentam convencê-lo de insistir em uma candidatura ao Planalto, mesmo inelegível e com condenação de 27 anos e três meses de prisão.
Entre os quadros de direita e de centro havia a expectativa de que, com a proximidade do fim do ano, Bolsonaro indicasse com mais segurança que passaria o bastão, mas isso não aconteceu. Pelo contrário, a família mantém o discurso de candidatura do ex-presidente. Dentre esses aliados, há quem veja o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na disputa pelo espólio eleitoral do pai.
O que desanima Tarcísio, segundo seu entorno, é a falta de segurança de que seria ele o candidato. Apesar de negar isso publicamente, ele vinha se preparando para essa possibilidade diante de acenos positivos por parte de Bolsonaro. Ele visitará o ex-presidente na próxima segunda-feira (29).
Dois deputados da base governista na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) disseram à reportagem que, ao frear a ofensiva à Presidência, Tarcísio busca preservar a sua imagem após ter sido alvo público de ataques de bolsonaristas, em especial de Eduardo, e da esquerda, com Lula o colocando como o adversário a ser batido.
A demonstração de desânimo do governador, além dos crescentes alertas de aliados de Bolsonaro, pode também servir como uma forma de pressionar o ex-presidente a se decidir.
Enquanto o governador se distanciou dos holofotes, Ratinho circulou por São Paulo ao lado de Gilberto Kassab, presidente de seu partido e secretário de Governo de Tarcísio, tentando se projetar no estado, que possui o maior eleitorado do país.
A agenda incluiu reunião com empresários, palestra na Associação Comercial (onde Kassab tem influência), cerimônia de filiação de uma ex-secretária de Cultura da capital e um jantar com o ex-tucano Andrea Matarazzo. Além disso, Ratinho também sondou lideranças do interior do estado para ajudá-lo na coordenação da campanha, como o ex-prefeito de Itapevi Igor Soares (Podemos), que em 2022 esteve com Tarcísio.
Matarazzo diz que conhece Ratinho há anos e que o encontro foi apenas para "conversar um pouco".
Apesar do apoio, Kassab é reticente em abrir mão de Tarcísio, que segue sendo sua primeira opção à Presidência, segundo a Folha apurou. Ratinho é seu plano B, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o plano C. O partido pretende escolher o nome mais competitivo no ano que vem.
"Tem tido, da nossa parte, a abertura de espaço para que eles [Ratinho e Leite] se apresentem, apresentem a sua história, o seu legado", disse Kassab na sexta (26) ao participar de um evento. "Como governadores, aliás, eles são muito bem avaliados nos seus estados. E vamos aguardar, agora, o desdobramento, as próximas semanas, com muita calma."
Para um dirigente partidário paulista, as incursões de Ratinho em São Paulo são uma tentativa de projetá-lo como representante da centro-direita, diante da percepção de que Tarcísio optou pela ala mais radical do bolsonarismo. Este dirigente, entretanto, avalia que o governador de São Paulo ainda tem tempo e condições para chegar às eleições com capital político para derrotar Lula.
O nome de Ratinho surge também como alternativa entre bolsonaristas, mas com algum ceticismo quanto à sua viabilidade eleitoral, ainda que ele tenha baixa rejeição e seja ainda pouco conhecido pela população.
O senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), foi às redes sociais na sexta (26) para expressar sua insatisfação sobre a indefinição no campo da direita.
"Já está passando de todos os limites a falta de bom senso na direita, digo aqui a centro direita, a própria direita e seu extremo. Ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez", disse.
"Por mais que tenhamos divergências, não podemos ser cabo eleitoral de Lula, do PT e do PSOL", continuou.
Ciro Nogueira é entusiasta de uma candidatura de Tarcísio, que vê como quem tem mais chance de derrotar Lula.
Após a prisão de Bolsonaro, o governador de São Paulo intensificou a articulação pela anistia ao seu padrinho político, considerado um gesto importante para conquistar a ala mais radical do bolsonarismo. Viajou a Brasília e fez lobby para aprovar o perdão, mas viu a proposta perder fôlego na última semana.
No protesto da avenida Paulista, no domingo passado (21), Tarcísio foi um dos principais alvos tanto das autoridades que discursaram quanto dos manifestantes, que entoaram coros de "fora, Tarcísio". O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), em um dos discursos mais aplaudidos, disse que o governador jamais vestiria a faixa presidencial. "Ela não foi feita para inimigo, para covarde e traidor da pátria", afirmou.
Já o projeto de anistia, relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), acabou se consolidando como o "projeto da dosimetria", limitado à redução das penas.
Integrantes do MDB, do PSD e do União Brasil paulistas ouvidos pela reportagem avaliam que Tarcísio teve tropeços: além do fracasso da anistia, ele já havia sido criticado pelo alinhamento imediato ao clã Bolsonaro após o tarifaço de Donald Trump e pelo discurso radicalizado contra Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), no 7 de Setembro.
Na quarta-feira (24), mesmo diante de reações negativas, o governador permaneceu na defesa de sua proposta de anistia. "Espero que seja feito o melhor para olhar aquelas pessoas que estão [presas] pelo 8 de Janeiro e olhar todo mundo que teve apenamento injusto, incluindo o presidente Bolsonaro", declarou ao ser questionado se aceitaria a revisão das penas.