Terceira Guerra Mundial está sendo 'travada aos poucos', diz papa em sua 1ª viagem internacional
O papa fica até domingo (30) na Turquia e depois vai ao Líbano

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Em sua primeira viagem internacional, na Turquia, o papa Leão 14 fez um apelo à paz e citou seu antecessor, Francisco, ao dizer que dinâmicas destrutivas de poder econômico e militar estão permitindo uma "Terceira Guerra Mundial travada aos poucos".
Em encontro com o líder turco Recep Tayyip Erdogan e autoridades, Leão 14 afirmou que o mundo estava sendo desestabilizado por "ambições e escolhas que atropelam a justiça e a paz". "Nós não podemos ceder de forma alguma. O futuro da humanidade está em jogo", disse o pontífice.
Erdogan, um crítico ferrenho de Israel e visto por Tel Aviv como líder próximo do grupo terrorista Hamas, elogiou a "postura astuta" de Leão 14 sobre a questão palestina. Em setembro, o papa se encontrou com o presidente israelense, Isaac Herzog, e falou sobre a "situação trágica" da Faixa de Gaza.
Leão agradeceu as boas-vindas de Erdogan ao país e afirmou que a Turquia é uma terra "inseparavelmente ligada às origens do cristianismo" e, ao mesmo tempo, lugar em que se encontram três grandes religiões abraâmicas, o islã, o cristianismo e o judaísmo.
O pontífice também usou a metáfora histórica para a Turquia como ponte entre mundos para criticar a polarização e posições extremistas de um mundo com "risco de fragmentação".
O papa fica até domingo (30) na Turquia e depois vai ao Líbano. Na primeira etapa, um dos momentos mais importantes deverá ser sua visita à cidade onde aconteceu, há 1.700 anos, o primeiro concílio ecumênico cristão.
A viagem para a celebração do Concílio de Niceia é uma continuidade com o programa do papa Francisco, que tinha falado publicamente sobre a vontade de ir à Turquia neste ano. O pontífice argentino morreu em abril.
Ocorrido no ano 325 na cidade que hoje se chama Iznik, a cerca de 140 km de Istambul, o concílio foi fundamental na história do cristianismo. Foi convocado pelo imperador romano Constantino 12 anos após ele ter liberado a fé religiosa, colocando fim à perseguição aos cristãos, e reuniu cerca de 300 bispos.
A tarefa principal era encontrar fórmulas dogmáticas que resolvessem divergências entre religiosos que tinham vindo à tona após a liberdade de culto e o maior confronto entre os grupos. O temor de Constantino era que as fraturas entre os cristãos pudessem ameaçar a união do império.
O tema mais polêmico era ligado à identidade de Jesus e sua ligação com Deus. Em Alexandria, no Egito, o presbítero Ário dizia que o filho era subordinado ao pai e que não eram a mesma pessoa, dando a entender aos fiéis que Jesus era um Deus inferior.
"Que significa filho de Deus? O Concílio de Niceia responde que ele é da mesma substância do Pai, gerado e não criado. Que o filho é Deus de Deus, luz da luz", diz Ilaria Vigorelli, professora de teologia dogmática da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. "A coisa mais importante foi a confirmação, do ponto de vista teológico, da fé trinitária da Igreja, o fato de que ela celebrasse o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo."
A programação de Leão 14 na Turquia prevê uma oração ecumênica em Iznik, perto dos restos arqueológicos de uma basílica construída no século 4, após o primeiro concílio, e ao menos dois encontros com o patriarca Bartolomeu, representante da Igreja Ortodoxa.
Se a ida à Turquia é um legado do antecessor, a escolha do Líbano tem sido entendida como parte dos esforços do americano Robert Prevost pela paz no Oriente Médio. As menções aos conflitos na região são frequentes e, logo no início da sua primeira fala como papa, ele fez apelos por uma "paz desarmada e desarmante".
Além de autoridades, está na agenda um encontro ecumênico e interreligioso na praça dos Mártires, em Beirute. No país existem 18 comunidades religiosas ativas, uma referência de convivência plural na região. A visita ocorre após ataques de Israel contra um campo de refugiados palestinos no sul do país.


