José Medrado

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A ironia tem sido ao longo dos anos muito mal conceituada e usada indevidamente. Ela, hoje em dia, é tida como uma forma de expressão literária ou uma figura de retórica, que expressa o contrário daquilo que se quer dizer, que pensa. Ela é sempre vista como uma forma de zombar de alguém ou de alguma coisa.

Sócrates, no entanto, foi o criador do método que é muito mais que uma figura de linguagem e uma zombaria. A ironia socrática era, antes de tudo, um sistema de questionar algo em discussão, de expor a contradição do conceito exposto, ou mesmo de refutá-lo. O verbo que originou a palavra (eirein) significa  perguntar. Não guardava, de forma alguma, o intento de constranger, mas de aclarar o pensamento, desfazendo os enganos. Buscava usar os fundamentos sempre do lógos ou razão

Dito, estou queimando minha razão para entender ou mesmo ver lógica onde ministro João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que concedeu prisão domiciliar a Fabrício Queiroz, rejeitou 700 outros pedidos que chegaram à Corte em razão da pandemia do coronavírus, como muitos em igual situação e ou similares. Ele afirmou que precisaria olhar os casos individualmente, por que não o fez? Ou delegou a responsabilidade a médicos do sistema prisional.

O senhor Ministro ainda, como prêmio de consolação (ironia no sentido do senso comum) também determinou que a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, que estava foragida, também cumprisse prisão domiciliar, a fim de cuidar do marido. Seria aí uma expressão machista? Não sei. 

Ora, ora, não se questiona aqui o direito do Sr. Fabrício Queiroz, mas o tal princípio que lemos no "Art. 5º, da Constituição Federal: “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. Uma decisão desta natureza, penso e sinto como leigo, nos fará sempre cogitar que a justiça brasileira realmente não é para todos, mas, em especial, para quem pode ajustar poder (os tais embargos auriculares) e dinheiro para a contratação de caros advogados que têm trânsito pelos corredores dos Poderes da Nação. 
 


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