Ao longo da história em que o mundo é mundo, já se passaram muitos tipos de diplomacia entre os países. Entre elas floresceu por muitos séculos a diplomacia papal, na qual o Papa da época celebrava acordos e tratados e os submetiam aos países, às vezes, em contendas mortais. Conhecemos a diplomacia matrimonial, pela qual os casamentos entre homes e mulheres de diferentes coroas selavam a paz entre elas e fortaleciam suas alianças políticas. Pelo século XIX afora desenrolou-se a diplomacia secreta, sistema cujo vigor levaria à guerra e às contestações, sobretudo no campo colonial.
Atualmente, entre outras prosopopeias internacionais, e depois de muitas idas e vindas, entra em cena a diplomacia do amor à primeira vista, entre o presidente norte-americano Donald Trump e Lula da Silva, o brasileiro. Curioso é que entre eles rolava um ódio carniceiro, no qual Lula da Silva não poupava o norte-americano de toda sorte de pornografias e insultos e Trump respondia com obsequiosas sanções e duras considerações sobre o estado da republica brasileira.
De repente, num encontro fortuito, ocasional e breve entre os dois, no mesmo instante em que Lula da Silva acabara de pronunciar discurso bastante crítico aos Estados Unidos da América, sob a atenção de representantes das nações do mundo na Assembleia Geral da ONU, Trump declara seu amor súbito ao apedeuta que governa o Brasil, inaugurando um tipo brega de diplomacia entre nações.
Espoucaram foquetes de alegria entre os apoiadores de Lula da Silva, saudando o amor que nascia entre os dois. Lula demorou a crer que aquele idílio era para valer, porém, receoso de visitar o salão oval da Casa Branca, o brasileiro preferiu encontrar-se com o presidente norte-americano na Malásia, onde todos os gatos são pardos.
Sem penetrar em pormenores, sobejamente conhecidos, negociações transcorreram entre representantes governamentais dos dois Governos e culminaram com a eliminação de tarifas prejudiciais aos exportadores brasileiros, mas necessárias a conter a inflação que já recaia sobre produtos agrícolas consumidos pelos americanos, como laranja, café, banana e outros...
Essa inusitada diplomacia, segundo fontes desconhecidas –considerando que o amor é assunto privado e íntimo – conduziu os presidentes a analisarem conjuntamente a revogação da Lei Magnitsky, com a qual os EUA sancionaram o ministro do TRF Alexandre de Moraes, por crime contra os direitos humanos, e a suspensão de vistos americanos a autoridades brasileiras.
É voz corrente que o diabo é capaz de rezar orações dos santos evangelhos, se isso lhe convier. Consequentemente, não devemos duvidar de nada. Repito com Sancho Pança, em Don Quixote de la Mancha: “yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”.
Fala-se também que em troca dessas exorbitantes benesses, Trump teria pedido que o Brasil retornasse à –plenitude do estado democrático de direito, que a anistia ampla geral e irrestrita fosse aprovada no Congresso Nacional, que as empresas americanas de tecnologia ficassem livres do arrocho fiscal, que a censura fosse extirpada do Brasil... Nessa também estou inteiramente com Sancho Panço!
O certo é que estamos imersos num mundo de imagens, que não se pode acreditar em tudo. Não se pode também de tudo descrer, já que o mundo, tal como ele caminha, vai terminar num beco sem saída, no qual todos veem imagens e acreditam que são a realidade, como nos antecipou José Saramago: “o mundo está a converte-se numa caverna igual à de Platão”.
- Home/
- Colunistas/
- Marcelo Cordeiro /
- AMOR À PRIMEIRA VISTA II
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos



