É a atenção, estúpido!

Ás

É a atenção, estúpido!

Calma, não estou xingando você, leitor, de estúpido. Apenas busco chamar a sua atenção para o problema que estamos vivendo hoje, que é justamente a atenção, ou a falta dela. A inspiração vem da frase utilizada pelo responsável pelo marketing da campanha do então candidato à presidência do Estados Unidos Bill Clinton, quando ela alertava que o principal problema do país à época era a economia e cunhou a frase “é a economia, estúpido”. 

Creio que você vai concordar comigo que hoje a atenção ou a falta de atenção está presente nas escolas, nas reuniões, nos ambientes de trabalho e também no próprio convívio social. Outro dia, estava em um jantar no qual o anfitrião reclamou que aquela reunião parecia uma conversa toda atravessada, pois cada um falava imediatamente na sequência, sem dar continuidade aos assuntos. Ou seja, ninguém ouvia, ninguém prestava atenção na fala do outro, cada um falava o assunto que queria, e a conversa não fluía. Nos restaurantes, é comum que cada um fique mexendo em seu celular e pouco interaja com as demais pessoas à mesa. No ambiente escolar, isso também se repete. Embora não seja um fenômeno novo, ele se acelerou pelo uso dos celulares.

No ambiente empresarial, isso também se manifesta. É fácil notar nas reuniões que muitos estão desatentos, seja porque estão fazendo outras atividades ou até mesmo por estarem tomando conta de suas redes sociais, ou ainda porque a divulgação de determinadas informações foi mal feita ou realizada sem a ênfase necessária. Nesse ambiente, em que decisões rotineiras e estratégicas estão sendo tomadas, muitas informações importantes acabam não sendo notadas pelos participantes, gerando as chamadas “falhas de atenção”.

A Attention Based View, ou Visão Baseada na Atenção, preconizada pelo Professor William Ocasio em 1997, adota a perspectiva de que a atenção é um recurso limitado e valioso, fundamental para determinar quais questões, informações ou problemas serão priorizados dentro de uma organização. A VBA postula que o foco e a alocação da atenção gerencial são determinantes centrais dos resultados organizacionais (Ocasio, 1997). A inspiração é baseada em Simon, o qual, em 1947, apresentou uma perspectiva inovadora ao sugerir que o comportamento de uma empresa é moldado pela forma como ela canaliza e distribui a atenção em seus processos de tomada de decisão. Ao enfatizar a atenção como um fator determinante, a abordagem fornece uma lente para analisar a flexibilidade organizacional e a eficácia na resposta a pressões externas (Ocasio, 1997). Isso significa que, dentro de uma organização, nem todas as questões ou estímulos recebem atenção suficiente, o que influencia diretamente nas decisões e ações tomadas (Ocasio, 1997). 

No entanto, falhas de atenção estratégica e instâncias em que o foco gerencial é mal alocado ou insuficiente, as quais representam riscos significativos para o desempenho organizacional, continuam acontecendo, a despeito da maior quantidade e qualidade da apresentação das informações. Em termos de exemplos dessas falhas podemos listar a não identificação da entrada de um novo e forte competidor, o declínio de um produto ou serviço, o crescimento baseado em expectativas de um cliente que acabaram não se confirmando, a saída imediata de uma equipe inteira de um departamento essencial para a empresa, a concentração de compras em apenas um fornecedor por categoria, entre outros.

Meu mais novo projeto de pesquisa, desenvolvido com mais alguns colegas (Profa. Nairana Caneppele, uma expert sobre o tema Attention-Based View, o Prof. Thiago Bruno e o Doutorando Thiago Fernandes), busca estudar as falhas de atenção estratégica. Já iniciei os estudos e descobri uns achados interessantes, um grande varejista adota a seguinte regra em reuniões: pegou no celular tem que ir resolver o assunto fora da sala, outro diretor utiliza metáforas para falar, por exemplo, sobre perdas de mercadorias, usando ideias esse volume de perdas dá para encher um estádio de futebol. Numa empresa de TI, o participante que está discutindo o tema, tem o papel de chamar a atenção de todos os participantes e isso tem funcionado.

Fica a dica: se você entender que ocorrem falhas de atenção estratégica na sua empresa, faz sentido adotar mecanismos que ajudem a mitigar a possibilidade da ocorrência dessas falhas. O repasse rigoroso da pauta de discussões; manter o controle da atenção dos participantes, evitando que os mesmos se distraiam com celulares e outras interferências; municiar a todos com informações para tomar decisões; monitorar as exceções e os riscos, certamente podem ajudar.

Se você vivenciou um episódio de falha de atenção estratégia, ou ainda, está desenvolvendo algo para controlar a atenção na sua empresa, participe da minha pesquisa compartilhando o caso jcoyadomari@gmail.com. 

Referências

OCASIO, W. Towards an attention-based view of the firm. Strategic Management Journal, v. 18, p. 187–206, 1997
SIMON, H. A. Administrative Behavior: A Study of Decision-Making Processes in Administrative Organizations. Macmillan, Chicago, 1947.
José Carlos Oyadomari (PhD.) Professor do Insper e Professor Pesquisador do Mackenzie. Sócio da True Port Advisors (M&A). Conselheiro Consultivo da HVAR Consulting, Co-autor do livro Contabilidade Gerencial (Gen Atlas). Desenvolve mentorias sobre Finanças para executivos, além de treinamentos corporativos e consultoria. Instagram: @prof.oyadomari   https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/
 

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário