O General e seus leguleios

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O General e seus leguleios

De repente, a voz alucinada de Alexandre de Moraes irrompe ameaçadora, interrompendo a defesa de Eumar Novack, advogado de um dos réus, que naquele momento, interpelava o General Freire Gomes e o reprime com a voz ameaçadora: “Não estávamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que faça circo aqui no meu tribunal (o grifo é meu)”. Aquelas palavras, falsas e elogiáveis que os advogados ouviam, transformaram-se em ofensas inqualificáveis. O Xandão, transvestido de Janja, fez as vezes de Presidente da sessão e advertiu o incauto advogado.

De que teria ele qualificado o intruso advogado, interrogando, no uso de seus sagrados direitos, a  testemunha que Moraes havia convocado para  depor em seu tribunal particular? Trapezista, malabarista ou palhaço? Sabe-se lá!

E que suprema ousadia do causídico. Logo no seu Tribunal, fazendo perguntas incomodas, porém respeitosas à testemunha, um General do Exército e Ex Comandante da Força, títulos que o “juiz” não hesitaria em espinafrar, assim que contrariasse suas excitativas condenatórias.

O fatídico interrogatório prossegui, no entanto. O Procurador Geral da República, Paulo Gonet, inquiriu o depoente sôbre  a suposta adesão do Almirante Almir Garnier, ao que estava sendo cogitado, ou seja  medidas constitucionais ( Estado de Sitio, GLO e outras, previstas na Constituição), obtendo a resposta peremptória e esclarecedora, de que não tinha  conhecimento.

Vendo-se perdido e contrariado, o Relator leguleio voltou-se  contra o General Freire Gomes, e desta vez com palavras gravemente injuriosas, como se o depoente não tivesse assegurado em juízo, o direito de  explicitar claramente as suas declarações.

Ao responder, o General arguiu que não tinha meios de identificar o real pensamento do Almirante Garnier. Foi o bastante para que o obstinado Relator desferisse suas palavras ofensivas: “Se mentiu na polícia, tem que dizer que  mentiu na polícia. Não pode dizer que não lembra. É General e foi Comandante, está preparado para lidar com tensão. Solicito que antes de responder, pense bem. Ou falseou na Polícia ou está falseando aqui.”

Enxovalhado e oprimido, o General Freire Gomes reagiu, afirmando que em seus 54 anos servindo as Forças Armadas nunca mentiu.

A quem, em verdade, o Relator da Ação, ora em tramitação no STF, efetivamente ofendeu ao tentar desmoralizar o depoimento de um General das Forças Armadas, senão a toda a Corporação, a sua participação nos longos anos que a serviu?

Todos esses fatos vergonhosos, faz-me lembrar uma das máximas mais cultivadas, desde que o Iluminismo kantiano vicejou na Europa Ocidental e inspirou o mundo que, se não fora sua bandeira revolucionária por mais tempo, permanece como uma verdade reconhecida, o imperativo categórico, anunciado por Immanuel Kant: “Age somente segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne uma lei universal.”

Tenho visto, sucessivas vezes, o pronunciamento de muitas personalidades do mundo político e jurídico, que não dão crédito a esta narrativo golpista, emprestando uma soberba experiência, que desmonta e desacredita uma farsa, da qual torna-se cada vez mais difícil nela, a suprema corte do país empenhar o prestígio obtido ao longo de sua existência. Acontecimentos como este aqui narrados têm o condão de  desvendar os objetivos políticos que  ainda lhe dão sobrevida, porém mais cedo do que se imagina, farão ruir o  castelo de cartas…

O depoimento do General Freire Gomes é uma obra de demolição, não uma consolidação da fantasia que sustenta uma estória,  que já tem tudo prá chegar ao fim.

Já se pode enxergar na face dos brasileiros, mesmo os que se deixaram conduzir pela ingenuidade e desconhecimento dos fatos, a famosa conclusão a que chegou nosso amado escritor João Guimarães Rosa: “Eu não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”. Quem viver verá!

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