O talento de "Pacheco"

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O talento de "Pacheco"

Há muita gente, inclusive eu, indignada com a louvação que os advogados de defesa do famoso processo da tentativa de golpe, tecem sobre os ministros da corte suprema, aos quais compete julgar o nebuloso caso. Alguns até beiram o ridículo e se superam em exagerados elogios. Houve até, é o cúmulo da idiotice, que um ministro carioca é bonito e charmoso, outro não poupou as virtudes de sua sogra e só faltou enaltecer a ministra Dona Carmem por suas inefáveis intervenções verbais! 
Ouvi dizer que tais louvações, na maioria dos casos, visam afagar o ego dos ministros e aquietar os seus espíritos punitivos, tantas vezes manifestado ao longo das etapas judiciais. Alguns advogados, os mais previdentes, após as exageradas apologias, descascam o verbo e destrincham as ilegalidades, mentiras e absurdos das alegações acusatórias. 
Essas exaltações ministeriais aos poucos, afora seu tom laudatório e suas gabações desmedidas, foram sendo compreendidas como táticas dos advogados para amaciar os plenipotenciários julgadores e passaram a ser admitidas, não obstante o asco que provocavam.
Não foi necessário muito esforço para perceber nos risos e nos semblantes ministeriais, um gozo que bem revelava o prazer com que suas excelências recebiam aquelas palavras, quase nunca encontradiças no seio da população circundante, a qual já tinha demonstrado seu desprezo e desaprovação ao olimpo ministerial, rebaixando-o ao mísero 12%.
Afigurou-se naquela cena um punhado de “pachecos”, personagem muito festejado na famosa obra de Eça de  Queiroz, intitulada “A Correspondência de Fradique Mendes”. Nela, o renomado escritor português descreve a trajetória de “Pacheco” e seu imenso talento. A cada elogio apaixonado de um Causídico, “Pacheco sorria, baixando os olhos sérios..........., e seguia, sempre pra cima, sempre para mais alto, através das instituições, com seu imenso talento aferrolhado dentro do crânio como no cofre de um avaro. E esta reserva, este sorrir...................., bastavam ao País que neles sentia e saboreava a resplandecente evidência do talento de Pacheco.”  
E não passava disso. “Pacheco” era superior e singular, unicamente porque tinha um imenso talento!
Daí a patacoada prosseguia impávida, rumo ao seu destino final. Imbuídos do espírito de “Pacheco”, os ministros já tinha de antemão a sentença de condenação dos réus pronta, expressa em linguagem odiosa e risonha pelo ministro Relator que, como ele, estavam sendo condenados ao hediondo crime de violação dos direitos humanos. 
Encerrada as alegações finais, aquele dia 03 de setembro de 2025 ficará na História como o dia em que o Brasil se cobriu de vergonha. Neste mesmo dia, a Comissão de Segurança Pública do Senado Federal ouvia de um ex-funcionário do Tribunal Superior Eleitoral, Eduardo Tagliaferro, refugiado na Itália, as denúncias dos crimes cometidos por Alexandre de Moraes  e seu gabinete paralelo, no âmbito do STF  e do TSE,  exibindo farta documentação comprovatória dos graves delitos, entre os quais a fraude processual conducente à criminalização de empresários, incursos em atentados contra o estado democrático de direito. 
Tais denúncias transformam o juiz acusador no processo penal de golpe de estado, em curso no STF, uma vez comprovadas, em sujeito ativo de um dos crimes mais abomináveis da judicatura e corrompe, mais uma vez, o processo penal já maculado de insanáveis ilegalidades, conduzido no STF pelo Juiz acusado e impõe sua imediata anulação.
É desse modo canhestro e torpe que se afigura a advertência profligada por Marcel Proust, muito útil para os incautos que depunham confiança no ministro violador dos direitos humanos. Diz o célebre romancista: “Vivemos ao lado de seres que acreditamos conhecer: falta o acontecimento que os fará aparecer irreconhecíveis”.

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