Infelizmente, ainda são poucas as grandes empresas que apoiam os seus fornecedores de pequeno porte. Durante a pandemia, tivemos o caso da Magalu, que privilegiou o pagamento antecipado aos pequenos fornecedores. Contudo, em geral, existem mais iniciativas focadas nos clientes, como é o caso de uma multinacional de fertilizantes que apoia o desenvolvimento das revendas de pequeno porte por meio da oferta de serviços de consultoria em um sistema de incentivos baseado em cashback.
A medida de apoio aos fornecedores de pequeno porte mais comum é a disponibilização de linha de crédito para antecipação de pagamentos por meio do risco sacado para eles. Essa iniciativa é interessante, mas muitas vezes há maiores ganhos para a própria empresa do que para os fornecedores. Na minha visão, há espaço para maior criatividade, e esse é o propósito desse artigo.
Por que entendo que faz sentido desenvolver os fornecedores de pequeno porte?
Primeiro, porque se os fornecedores melhoram as práticas organizacionais, eles ficarão mais eficientes e rentáveis, e isso será benéfico para as grandes empresas, que terão fornecedores melhor preparados, com maior conhecimento sobre custos e preços, fluxo de caixa, práticas de gestão operacional, etc. Os resultados prováveis serão melhor capacidade de decisão, gerando maior eficiência, e consequentemente maior solidez financeira e rentabilidade. Evidentemente, isso diminui o risco da grande empresa ao contratar esses fornecedores e promove maior eficiência na cadeia.
Segundo, porque as grandes empresas têm melhor acesso aos recursos que podem melhorar a rentabilidade dos fornecedores, como consultorias, tecnologias e recursos financeiros. Ou seja, os pequenos fornecedores terão acesso a esses recursos de forma mais organizada e mais eficiente.
Terceiro, porque de fato isso gera uma parceria ganha-ganha de forma sistêmica e sustentável para as partes interessadas. Menos desperdício, maior eficiência, decisões baseada em dados e em conceitos econômicos, tudo isso gerará reflexos para o todo.
Como as grandes empresas poderiam apoiar de forma prática os pequenos fornecedores?
Listo aqui algumas ideias:
1. Criando um sistema de incentivos que estimule esses pequenos fornecedores a um programa de qualificação. Por exemplo, com um cashback que seria revertido em programas de consultoria que esses fornecedores poderiam acessar por meio de critérios de elegibilidade.
2. Em um segundo momento, estimulando e depois exigindo certificações de seus fornecedores, além das fiscais, trabalhistas e ambientais, como, por exemplo, balanços auditados, além de práticas gerenciais como planejamento, controladoria (diagnóstico econômico-financeiro, custos e preços), processos operacionais, governança e programas ESG.
3. Criando um ambiente em que os pequenos fornecedores possam compartilhar as práticas e também criar conhecimento de forma colaborativa.
4. Por fim, institucionalizar esses programas dentro das políticas de desenvolvimento e qualificação dos fornecedores atuais e novos. Por exemplo, bancando iniciativas como disponibilização de estagiários que poderiam trabalhar nos pequenos fornecedores, mas custeados pela grande empresa.
Os desafios são grandes, mas os potenciais benefícios também.
José Carlos Oyadomari (PhD.) Professor do Insper e Professor Pesquisador do Mackenzie. Sócio da True Port Advisors (M&A). Conselheiro Consultivo da HVAR Consulting e Traad Wealth Management, Co-autor do livro Contabilidade Gerencial (Gen Atlas). Desenvolve projetos de consultoria e treinamentoscustomizados sobre Controladoria e Finanças. Instagram: @prof.oyadomari https://www.linkedin.com/in/jcoyadomari/
