José Medrado

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Valores não são princípios.

Procuro sempre entender o que significa ser ou defender questões conservadoras, principalmente quando se fala de processos sociais. Infelizmente, em meu entendimento, as pessoas associam estas questões a posicionamentos político-partidários e as defendem como ideologias, sem, por outro lado, notarem que se tratam de valores, nada a ver com princípios. Valores sempre serão conceitos associados a um tempo, ao momento de uma sociedade e naturalmente ao processo de educação que fomos submetidos, em tradição, em transferência de conceitos com base em vivências familiares. Assim, os princípios serão imutáveis: honestidade, solidariedade. Mas valores mudam, evoluem, modificam-se e sempre terão a ver com os processos de inovações comportamentais que o tempo vai delineando. Antigamente, por exemplo, uma moça não virgem não se casaria vestida de branco, mas em cores pasteis. Isso é seguido hoje? Mudança de valores.

O que ocorre, em compreensão filosófica, é que ser conservador passa pelo medo das mudanças, que gera um estímulo de dúvida, de ansiedade e de insegurança, pelo aceite da novidade, do diferente em confronto com ideias de algo que gera desconforto, em função do conteúdo de valores engessados. A questão se torna mais estranha, para dizer o mínimo, quando alguém começa a impor sua visão de mundo, os seus valores a outros, através de reações desproporcionais à compreensão de vida e a autodeterminação das pessoas de serem o que são, sem estarem agindo, naturalmente, criminalmente.

Por isso, torna-se incompreensível que um homem de 33 anos foi atingido por quatro tiros depois que beijou o companheiro dele em um bar em Camaçari, região metropolitana de Salvador. A vítima, identificada como Marcelo Macedo teve o fígado, o baço, um dos rins e um braço atingidos pelos tiros. De acordo com amigos da vítima, um homem se levantou de uma das mesas e perguntou se Macedo não tinha "respeito às pessoas do bar". Esse desrespeito foi em quê? Afrontou o conteúdo de valores do cidadão, e não violação de princípios legais. Razão, por outro lado, que não vemos muitas reações gerais diante da terrível estatística que nos informam que a cada quatro minutos uma mulher é agredida no Brasil. Repito: não vemos reações veementes contrárias a este estado de violência porque o machismo ainda é um valor cultivado na sociedade brasileira.

Posicionamentos diante do comportamento do outro tem a ver com o conceito de vida, compreensão antropológica e psicológica do mundo que eu recebi, e não de moral. Esse conteúdo sempre será da minha cultura ou da falta dela.


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