Existem personagens da vida real e da ficção que custam a aceitar uma saída de cena sem os mesmos holofotes que recebiam no auge da carreira. É como o Rambo, de Silvester Stallone, que pipoca uma e outra vez no cinema para outra série de explosões, justiça com as próprias mãos e doses cavalares de violência, cujo começo, meio e fim é quase um repeteco dos cinco filmes anteriores.
Sem a parte da truculência, claro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril do ano passado na superintendência da Polícia Federal (PF) de Curitiba, no Paraná, é um destes personagens que vivem o drama dos quase vencedores. Vivem sob a urgência de brilhar como no passado e lutar contra o fardo amargo do presente. Está eternamente obcecado por obter os mesmos louros de outrora, mas os passos do agora não dão conta de atingir a mesma estrada.
A carta do petista em que desafia a Lava Jato e manifesta o interesse em permanecer preso é, por certo, a dramaticidade perfeita, pontualmente alçada para buscar a tão almejada redenção. Lula comentou que não “barganha” seus direitos e liberdade, o que é, convenhamos, um famigerado artifício linguístico fora do contexto. Na Justiça, nada se trata de barganhar, e sim se enquadrar nos ritos do processo.
Exaltar utopias faz parte do enredo de remendos. A sonhada redenção depende de exageros, artimanha popularesca e um horizonte a ser conquistado, antagônico ao lugar em que se posta a princípio – a prisão. Hoje, este é o palco de Lula, cela em Curitiba, não raramente povoada por jornalistas e amigos.
O final da carta, então, é épico: “Tenho plena consciência das decisões que tomei nesse processo e não descansarei enquanto a verdade e a Justiça não voltarem a prevalecer”. Um gran finale - “só que não”, como diz uma expressão da contemporaneidade.
Fora de cena, Lula é um condenado pela Justiça em dois casos e outros ainda podem surgir. É ficha suja, inelegível para qualquer candidatura política. A carta é apenas o simulacro de um ex-presidente.