A ética de Shane

[A ética de Shane]

FOTO: Reprodução

Por Pacheco Maia

Shane é um filme belíssimo! Um dos melhores que já vi. Não é à toa que fiz questão de tê-lo e preservá-lo em DVD (tecnologia obsoleta, mas que faço uso ainda, como o rádio AM). 

O faroeste é um gênero do cinema muito rico, cheio de nuances. Abraça o entretenimento do bangue bangue, a história, a sociologia, a psicologia, a ética, a religião, o amor, a família etc. 

Pois tem tudo isso em Shane que, no Brasil, virou Os Brutos Também Amam. O título original não teria o mesmo apelo no cartaz para as plateias brasileiras. E cá entre nós a versão brasileira é uma sacada genial.

Shane é o cowboy, o cavaleiro solitário que vaga pelas plagas do Velho Oeste americano em busca de um sentido para sua vida. Ninguém sabe de onde ele veio e acaba no fim sem saber para onde vai. 

Ele encontra uma família que, ao lado de outras, começam a colonizar aquele pedaço de terra e criar uma comunidade, promovendo a reforma agrária yankee. Shane é bem recebido pela família. Conquista a admiração do filho, um garotinho, a confiança do pai e a simpatia da mãe... huuummm...

Hábil atirador e destemido como todo bom cowboy, Shane acaba virando o super-herói para aqueles colonos que chegaram à busca de realizar o sonho americano, ter sua terrinha, fazer sua vida. 

Existe a ameaça dos latifundiários que, gananciosos, não aceitam dividir a terra. Para eles, pecuarista, quanto mais terreno melhor para o gado. Os colonos têm uma cabeça mais de cooperação.  Eram uma ameaça também àqueles que se achavam o dono do pedaço. No ar, a reforma agrária.

O diálogo dos latifundiários, no entanto, é na bala. Assim eles intimidam as famílias, que, com seus princípios religiosos, não tem tanta habilidade para esse tipo de tratamento. Os homens ficam atordoados com as ameaças e o inferno se estabelece naquele lugar que sonhavam seria o paraíso.

Malandro velho das coisas do Velho Oeste, terra ainda sem lei, Shane se solidariza com os colonos. Bom no gatilho, ele lidera a reação e bota os bandidos pra correrem. Estabelecida a paz, Shane se despede, deixando tristes principalmente o garotinho e a mãe dele.

O título brasileiro, Os Brutos Também Amam, dá a dica dessa trama secundária que transforma esse faroeste numa obra-prima da sétima arte. Durante todo o drama dos colonos com os latifundiários, rola um clima entre Shane e a mãe do garotinho.

Os olhares se cruzam e a jovem senhora deixa sempre escapar o seu encantamento pelo forasteiro. “Tá na mão, Shane! Pega!”, poderia gritar um daqueles engraçadinhos do escurinho do cinema.

Não! Shane é um cavaleiro que vai continuar solitário por causa de sua inflexível ética...


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