Agências de checagem acusam governo Lula de 'politização' após lançamento de plataforma em combate a fake news

Segundo profissionais, o processo de checagem dos fatos deve ser independente e apartidário

[Agências de checagem acusam governo Lula de 'politização' após lançamento de plataforma em combate a fake news ]

FOTO: Reprodução / PT

Agências de checagem de fatos acusam o governo do presidente Lula (PT) de "apropriação indevida" e "politização do combate à desinformação" após o lançamento do site BrasilContraFake, supostamente de checagem de fatos, pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Por meio das redes sociais no domingo (26), o presidente caracterizou a iniciativa como uma "plataforma de checagem de informações e combate à desinformação". "O Brasil sofreu muito com mentiras nas redes sociais nos últimos anos. Precisamos fortalecer uma rede da verdade. O @govbr lançou nesta semana uma plataforma de checagem de informações e combate à desinformação", escreveu na publicação.

Contudo, para os checadores, não existe checagem de fatos feita pelo governo, porque o processo necessariamente precisa ser independente e apartidário. Além disso, dizem ainda que o site não segue os princípios básicos da checagem, como indicar de onde foram retiradas as informações usadas nas checagens e qual é a metodologia usada para determinar a veracidade, além de ter transparência no processo de escolha do conteúdo que será verificado.

"Temos reservas a essa iniciativa. Não sabemos se essa plataforma adotará os critérios da IFCN [International Fact-Checking Network], que baliza o trabalho das agências de checagem em todo o mundo", diz Alexandre Gimenez, responsável pelo UOL Confere. "Também existe uma questão ética envolvida, já que parte do trabalho de uma agência de checagem é verificar informações divulgadas pelo próprio governo."

A Agência Lupa aponta que alguns conteúdos "verificados" são, na realidade, notas de "esclarecimento" do governo. Em publicação sobre o aumento do desmatamento em fevereiro, afirma a Lupa, o governo confirma que os dados são verdadeiros (sem apresentar nenhum link para as bases de dados relevantes sobre o tema), mas diz que "políticas públicas ambientais são marcadas pela efetividade a médio e longo prazo, e não imediata".

"Isso não é checagem de fatos, é assessoria de comunicação do governo", diz Daniel Bramatti, editor do Estadão Verifica. "O governo tem o direito de esclarecer informações erradas sobre políticas públicas, mas isso não é checagem, não queremos uma Fakebras, uma visão estatal sobre o que é fato e o que não é."

A plataforma veicula ainda desmentidos de relatos falsos relacionados ao governo, como o boato de que o Executivo teria determinado o fechamento das comportas da transposição do rio São Francisco, mas não aponta para as fontes originais nas quais a versão correta poderia ser encontrada.

Ao desmentir a afirmação falsa de que Lula teria sido impedido de entrar no avião presidencial e no Palácio do Alvorada, o site usa a própria Secom como fonte, dizendo: "Que fake news bolsonaristas alimentem ilusões dos seus seguidores é antidemocrático e um desrespeito de quem divulga essa mentira".

O site lançado pelo governo federal também apresenta conteúdos baseados em verificações dos sites de checagem Fato ou Fake, Aos Fatos e Lupa, com referência e link direto. Mas alguns deles não foram consultados. "Trata-se de uma apropriação indevida do conceito de checagem de fatos e do conteúdo de checadores", diz Natália Leal, diretora-executiva da Agência Lupa, cujas checagens foram citadas sem autorização.

Posicionamento da Secom

De acordo com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, a intenção da plataforma nunca foi ser uma agência de checagem de fatos, nem concorrer com os checadores. "Estamos apenas reunindo esclarecimentos de informações falsas sobre diversos ministérios e medidas do governo. Não fazemos checagem, até porque somos governo, não somos isentos", disse ao jornal Folha de S.Paulo.

Ao ser questionado sobre o fato de a plataforma se apresentar como sendo de "checagem de informações", ele disse que a Secom pode ajustar o nome para algo como "conferência de informações" para eliminar a confusão. 

Já sobre o uso não autorizado do conteúdo dos checadores, o ministro diz que o site apenas cita as verificações como fontes e dá crédito. "Reconhecemos a importância do trabalho dos checadores, que fazem um serviço de utilidade pública."

 


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