Alta no preço dos combustíveis afeta setores da economia devido ao valor dos fretes
"Quando aumenta o diesel, impacta diretamente no frete e no preço de todos os produtos desta cadeia", afirma economista

Foto: Agência Brasil
O aumento constante no preço dos combustíveis segue pesando no bolso dos brasileiros que, em muitos casos, precisam abrir mão de algumas práticas para dar conta das despesas. Embora o Brasil seja um dos maiores produtores de petróleo do mundo, o cenário internacional de alta no preço do barril devido à guerra na Ucrânia, além da valorização do dólar e desvalorização do real, são fatores que contribuem para o encarecimento dos combustíveis.
Na última semana, a Petrobras anunciou novos reajustes para as refinarias que foram repassados às bombas imediatamente. A gasolina subiu 18,8%, o óleo diesel 24,9% e o gás de cozinha 16,1%. Essas altas vieram após os itens já engatarem fortes altas durante a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Somente no ano passado, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação da gasolina para o consumidor final disparou 47,49%.
Nesse cenário, os brasileiros passam a conviver com o constante aumento no valor de itens necessários, como o gás de cozinha que passa de R$ 100 em alguns estados e da gasolina que em alguns pontos do Brasil ultrapassou o valor de R$ 8,00 o litro. Segundo o levantamento do Índice de Preços Ticket Log (IPTL), a Bahia teve a gasolina mais cara do país neste mês.
Para além da alta dos preços nas bombas, o economista Edval Landulfo explicou ao Farol da Bahia que o petróleo mais caro tem efeito de cadeia em praticamente todos os setores em razão do preço dos fretes. “Quando há um aumento no preço dos combustíveis, inevitavelmente, todos os setores são afetados porque a nossa cadeia logística é baseada no transporte rodoviário. Então, quando aumenta o diesel, impacta diretamente no frete e no preço de todos os produtos da economia. No setor de perecíveis, por exemplo, o impacto é imediato”, disse o especialista.
Landulfo, no entanto, negou que haja a possibilidade de um aumento de preços generalizados. “Alguns setores já fizeram um repasse e eles deixam chegar a uma determinada alta. No entanto, isso tudo vai depender da planilha de custos de cada setor. Alguns setores vão dar um repasse maior e outros um repasse menor”, explicou Landulfo, que completou dizendo que neste momento a preocupação é que o brasileiro perdeu renda e “estamos lutando para sair de uma pandemia”.
Economista Edval Landulfo dá dicas sobre como driblar o aumento dos preços. Foto: Arquivo Pessoal
O economista lembrou, ainda, da retomada gradual dos setores. “Agora que o setor de serviços vai começar a contribuir porque os shows e os estádios, por exemplo, já estão liberados. Então, nós teremos novos setores contribuindo para o aquecimento dessa economia. Se é repassado para o consumidor tudo aquilo que a empresa está recebendo, esse consumidor vai optar por um produto mais barato. Isso já vem acontecendo. Por isso, as empresas analisam e sabem que esse aumento geral nos preços pode afetar o consumidor final. O aumento de preços precisa ser bem estudado, nem todo repasse ocorre de imediato", afirmou Edval Landulfo.
Em relação ao preço dos combustíveis, o economista disse que o consumidor pode mudar alguns hábitos para driblar o aumento dos preços. “Ao invés de encher o tanque, o motorista pode tentar abastecer com a quantidade de combustível que será usado na semana porque isso pressiona os postos de gasolina a também fazerem algum tipo de manifestação contra o governo federal. Se a gente fica enchendo o tanque, estamos dando lucro semanalmente para aquele posto de gasolina. Quando a gente corta, eles sofrem um impacto”, explicou.
A mesma dica, segundo Landulfo, pode ser usada nos supermercados e dentro de casa. “Os consumidores podem fazer compras por semana, vendo as promoções do dia. Neste momento, a regra é desperdício zero. Comprar somente o necessário. É preciso economizar na energia elétrica, tirando os aparelhos de standby. Usar somente quando necessário o carro ou a moto, optando pelo metrô ou por um ônibus não muito cheio”, completou.
Transportes
De acordo com Edval Landulfo, o setor do transporte público também pode sofrer com o aumento dos combustíveis. Isso porque os ônibus, segundo ele, são abastecidos com óleo diesel. “As empresas conseguem segurar até um certo momento, mas depois terá esse repasse. Aqui em Salvador, por exemplo, já estamos ouvindo que em abril ou maio as tarifas poderão sofrer um aumento.
O setor do transporte por aplicativos também foi impactado pela alta. Na semana passada, a Uber, por exemplo, anunciou um aumento de 6,5% no valor das corridas. Porém, na avaliação de profissionais do serviço, não houve aumento real no bolso dos motoristas.
Em entrevista ao Farol da Bahia, o motorista Júnior Mesquita afirmou que tem sofrido com o preço dos combustíveis. “Tudo isso tem afetado bastante o meu serviço, pois o preço final da corrida não supre o valor gasto com o combustível. Fora que os motoristas não gastam apenas com combustível, temos gastos com manutenção, seguro, IPVA [Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores] e outros reparos. Então, cada dia que aumenta a gasolina fica difícil para a gente que depende dela para trabalhar”, relatou Mesquita, que afirmou que muitos motoristas desistiram de “rodar”.
Gerusa é motorista de aplicativo particular e admite que está difícil "rodar" - Foto: Arquivo Pessoal
Também em entrevista, a motorista Gerusa Souza afirmou que as corridas diminuíram drasticamente. “Tudo está mais caro, então é comum que o consumidor recorra ao meio mais em conta. O aumento dos combustíveis tem prejudicado os ganhos, que tem diminuído bastante. Está complicado para quem trabalha com a Uber”, disse a motorista.