Assistência precária e recorde negativo
Confira nosso editorial deste sábado (1º)
Um recente levantamento afirmou que, no Brasil, pelo menos 201 mulheres morreram nos últimos meses durante a gestação ou no pós-parto após diagnóstico de covid-19. É um recorde negativo – o país é o único que chegou nesse indicador.
Alguns fatores tornam este grupo mais vulnerável no Brasil do que no resto do mundo. O diagnóstico tardio atrasa a assistência ao binômio mãe e feto e traz um impacto negativo no desfecho da doença. Isso pode ocorrer devido às modificações fisiológicas próprias da gestação que se sobrepõem aos sinais e sintomas da covid, dificultando o diagnóstico.
E por se tratar de uma doença nova, são muitas as características variáveis em relação aos sintomas e com poucos estudos que comprovem eficácia no tratamento na população geral e específico da gestante.
O atendimento às mulheres grávidas em maternidades e a assistência ao pré-natal nunca pode ser negligenciado. Essa paciente precisa continuar com o acompanhamento de pré-natal regularmente, as consultas não deverão em hipótese alguma serem postergadas para quando o risco de transmissão diminuir ou quando o teste tornar-se negativo. Além disso, grávidas sempre têm prioridades em leitos de UTI.
Outro fator que implica neste levantamento negativo no Brasil é a condição precária em que vive parte da população. Agravada pela crise econômica no atual cenário de pandemia, piorou a qualidade de vida de muitas grávidas e suas famílias, com alimentação mais restritiva, difícil acesso a medicações, além de outros fatores.
O difícil acesso ao serviço de saúde, a testagem tardia e a demora na assistência a essas mulheres têm causado uma rápida evolução da doença. Existe uma preocupação com a negligência no atendimento às gestantes com covid-19, já que os dados demonstraram que cerca de 20% dos casos fatais não foram internados em UTI e mais de 10% não receberam nenhum tipo de suporte ventilatório.
Que qualidade de assistência que foi dada a essas gestantes graves que evoluíram para óbito sem ao menos ter acesso a uma internação em UTI? São perguntas que ainda ficam nas reticências.