Aumento nas tarifas de ônibus e metrô deve comprometer 12% do orçamento da população baiana
Ao Farol, economista explica quais são os índices que interferem nos reajustes

Foto: Divulgação | Max Haack/Secom PMS
No início desta semana, a notícia sobre o aumento das tarifas de ônibus e metrô em R$ 0,20 surpreendeu a população soteropolitana que, após um ano de exaustão mental e financeira causada pela pandemia, tem que enfrentar mais um novo inimigo: o bolso apertado.
Em números totais, o valor da passagem dos ônibus passou de R$ 4,20 para R$ 4,40. Já no metrô, o preço foi de R$ 3,90 para R$ 4,10. Estima-se que, diariamente, 530 mil usam os mais de dois mil ônibus de Salvador e outros 370 mil passageiros utilizam as duas linhas do metrô da capital baiana e de Lauro de Freitas, região Metropolitana.
Dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o rendimento domiciliar médio por pessoa em toda Bahia foi de R$ 965 em 2020. Em entrevista ao Farol da Bahia, o economista José Humberto Silva Lima explicou que o impacto do aumento das tarifas em R$ 0,20 pode variar de acordo com cada núcleo familiar. No entanto, considerando as estatísticas do IBGE, esse reajuste pode comprometer até 12% da quantia total calculada, que ficou abaixo de R$ 1.045 do salário mínimo.
"Considerada a renda per capita anual apresentada, um aumento de vinte centavos para uma pessoa que se utilize o transporte duas vezes ao dia, por vinte e cinco dias no mês, em um ano terá um impacto em torno de 12% em seu orçamento", explicou o especialista, que já atuou como funcionário do Banco Central e foi professor nos ramos de Economia Monetária e Regional e Urbana.
Em dados percentuais, os reajustes de ambos transportes foram de 4,76% e 5,1%, respectivamente, e se baseiam em alguns critérios adotados tanto pela gestão municipal quanto pela estadual em conjunto com as concessionárias.
Esses parâmetros incluem, por exemplo, as variações do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período de 12 meses entre o último reajuste e um mês anterior ao da correção tarifária, além do preço do diesel, importante para o abastecimento dos coletivos. Desde o começo deste ano, o diesel tem sofrido sucessivos reajustes, totalizando um crescimento de 36,6% no primeiro quadrimestre do ano, conforme dados da Petrobras.
Diante de tantos números, dados e percentuais, o economista José Humberto simplificou quais são os significados do IPCA e o INPC e como esses índices atuam para traçar o perfil econômico do país.
"IPCA é a sigla que designa o Índice de Preços ao Consumidor Amplo. É um dos principais indicadores da economia e tem essa designação de “amplo” porque visa medir a oscilação dos preços dos bens e serviços consumidos pelas famílias com renda de um a quarenta salários mínimos. Os bens e serviços pesquisados vão desde o feijão, arroz, até preço de consulta médica, aluguel, mensalidade escolar e muitos outros. O INPC é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, que envolve uma lista de itens semelhante ao IPCA, porém, no levantamento dos dados, o IBGE foca no consumo das famílias que ganham entre um e cinco salários mínimos", pontuou o economista.
Questionado sobre haver ou não uma aplicação "justa" no aumento das tarifas, José Humberto traçou duas linhas sobre a situação e argumentou que, do ponto de vista econômico, "Se o reajuste está previsto, fórmula de cálculo e periodicidade foram respeitados, ele é legal e, portanto, justo", porém, diante da situação dos mais vulneráveis na pandemia, com "o mundo há quase um ano e meio em pandemia, muita gente perdeu o emprego, uma renda per capita na linha da miséria, incertezas pairando nos quatro cantos, qualquer encargo a mais, principalmente para os mais pobres é, terrivelmente, injusto", ressaltou o economista.
Apesar de não acreditar em muitas maneiras de tentar “driblar” o impacto dos gastos, o especialista acredita que o caminho é tentar espremer outras despesas para dar conta dos custos com o transporte.
"A primeira, mas nem sempre possível, forma de driblar, é não a fazer. Locomover-se a pé? Para uns pouco pode ser possível. Deslocar-se menos vezes? Também pode ser alternativa. Utilizar outro meio de transporte, a exemplo de bicicleta, carona, todas essas alternativas são válidas. Mas, no fim, o que prevalece mesmo é a velha tática de espremer o orçamento, sacrificando itens essenciais como alimentação, aquisição de medicamentos e outros, para cobrir o déficit e satisfazer as despesas com o aumento da tarifa do transporte", completou.