Dia da Consciência Negra: Como é ser negro na sociedade de hoje?

Em pleno século 21, na data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, homens e mulheres ainda batalham, diariamente, por igualdade, oportunidade e respeito. A equipe do Farol da Bahia trouxe declarações de cidadãos baianos, naturalizados, sobre como é ser negro na sociedade de hoje, onde valores e opiniões retrogradas e muitas vezes coloniais, assombram a sociedade como um todo. 

Laura Raquel, Modelo e Estudante, 21 anos 

"Com toda certeza vencemos varias batalhas contra o preconceito, mas ainda não chegamos nem na metade do caminho. Hoje em dia o preconceito se disfarça de várias formas, e até nos faz acreditar em falsas palavras de apoio. Muita gente fala que nada pode ser dito hoje em dia, que tudo pode gerar um problema. Mas eu acredito na importância dessa problematização constante aos termos incorretos. É necessário fazer as pessoas entenderam que as vezes o que existe por trás da palavra é sim o que alimenta o racismo. Certa feita li um texto de Audre Lorde e uma frase fixou em minha mente - As ferramentas do mestre nunca irão desmantelar a casa do mestre -, ou seja, não tem como buscarmos igualdade se permitirmos atitudes racistas e preconceituosas. Pra mim, o dia da consciência negra representa a luta constante de todos por respeito".

Chacal Ferreira Costa, Operador de Maquinas, 47 anos 

"Vivi muitos anos na Bahia mas hoje resido fora do país. E acredito que na verdade, no Brasil, somo escravos do sistema, acabamos passando pelas mesmas coisas que nossos antepassados. Um exemplo forte que tenho aqui é que os jornalistas são negros,  sem cotas, sem preferencias, nada. A visão é diferente, entende? Hoje estou na escola da minha filha e só tem eu de negro, mas ninguém me trata de maneira diferente por conta disso. Convivo com turco , marroquino, polaco , holandês e eu sou brasileiro e pronto, todos nós somos estrangeiros. Não acho que o caminho seja a revolta, não acredito na questão da consciência negra. Acho que os brasileiros potencializam isso".

Danilo Cassio dos Santos, Operador de TI, 29 anos 

"Bom, estamos em 2019 e ainda assim vemos um cidadão de bem, no estádio de futebol, olhar pra um trabalhador e falar "Olhe sua cor, viado...",  "Cidadão de bem" (risos), o dia é importante porque faz a gente pensar que mesmo o Brasil sendo o segundo país com maior número de pessoas negras no mundo, a desigualdade é escancarada. Ser negro na sociedade atual continua sendo um desafio. A gente tem que se virar todo dia pra conseguir nossas vitórias. Meu pai é um homem sem formação e que teve que se virar em mais de um emprego pra conseguir dar a melhor vida que podia pra mim, meu irmão e minha mãe, ele sempre me falou pra buscar algo mais. Hoje estou me formando e posso dizer que ele me ajudou bastante nisso, da forma que podia, mas sei que a realidade de muitos é bem diferente disso. Não acho que está bom, ainda falta muito pra dizer que a sociedade dá direitos iguais à todos".

O dia também é marcado pela morte do líder negro Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência contra a escravidão.

Em Salvador, cidade com maior população negra do Brasil não é feriado

Apesar de em outras cidades o Dia da Consciência Negra ser feriado facultativo, em Salvador, a cidade com maior população negra do país, não é feriado.

Em 2010, o então presidente Lula, anunciou que seria um feriado nacional. Todavia, a procuradoria geral informou que por lei, não era possível por conta da quantidade existente de feriados, onde a capital baiana já chegou no limite.