O número de refugiados no mundo, entre pessoas fugindo de guerras, perseguições e conflitos, superou a marca de 70 milhões em 2018, de acordo com o levantamento divulgado essa semana pela Agência da ONU para Refugiados. O índice recorde, com 2,3 milhões a mais do que o quantificado em 2017, é um escandaloso sinal de que o mundo não está em paz e fugir de zonas de conflitos não é crime, e sim questão de sobrevivência.

O ONU estima que, em 2018, cerca de 13,6 milhões de pessoas se deslocaram pelo mundo por causa de conflitos e perseguições. Isso significa que, a cada dia do ano passado, 37 mil pessoas tiveram que abandonar o lugar onde residiam em busca de segurança.

O descolamento deve ser entendido como um processo natural e a busca por um recomeço, é inerente ao ser humano acuado, desesperado por viver e manter a vida da família. Em busca de melhores condições de vida, embarcaram num degradante e sofrido périplo para longe de casa, à deriva da fome, diversos tipos de violência, depressão e à mercê de governos que podem negar a permanência ou, então, ficar de mãos atadas e sem recursos disponíveis para dar abrigo e comida.

Mas, paulatinamente, a hostilidade e xenofobia são vencidas pela generosidade. Mesmo com a resistência de muitos em aceitar que estrangeiros possam morar e trabalhar fora do país de origem, o acolhimento a refugiados está em ascensão, com o aumento do engajamento de agências de desenvolvimento, empresas privadas, da sociedade civil e até mesmo do olhar mais humanitário e atento de governos à causa. O Brasil, por meio da Lei da Migração, não criminaliza o imigrante pela falta de visto e não mais o considera uma ameaça nacional.

A única via plausível é confortar - como cada um acredita ser possível - os milhões de inocentes que arriscam a vida por um recomeço num mesmo movimento que consiste em eliminar entraves políticos, econômicos e religiosos na terra natal destes deslocados, no intuito de não apenas dar abrigo, mas ajudar para que eles possam, um dia, voltar ao local de origem, sem mais guerras, miséria ou represálias devido à fé ou etnia.