Hepatites virais ainda desafiam sistema de saúde no Brasil
Doença é silenciosa, pode evoluir para quadros graves e ainda causa mais de mil mortes por ano no país

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Brasil registrou, em 2024, mais de 34 mil casos diagnosticados de hepatites virais, com cerca de 1,1 mil mortes diretamente atribuídas à doença. As hepatites são infecções que comprometem o fígado e podem ser provocadas por diferentes vírus, classificados em cinco tipos: A, B, C, D e E. No país, os tipos B e C são os mais frequentes, com predomínio de casos crônicos que, muitas vezes, evoluem de forma assintomática por anos até gerarem complicações graves, como cirrose ou câncer hepático.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a meta de reduzir em 90% a incidência das hepatites B e C até 2030, além de diminuir em 65% a mortalidade relacionada. Para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, o dia 28 de julho foi instituído como o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais.
Segundo o infectologista Pedro Martins, professor da Afya Educação Médica, a prevenção varia de acordo com o tipo viral. As hepatites A e E estão associadas à ingestão de água e alimentos contaminados, enquanto as do tipo B, C e D são transmitidas principalmente por meio de contato com sangue ou fluídos corporais, o que pode ocorrer ao compartilhar itens de uso pessoal ou durante relações sexuais desprotegidas.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente vacinas contra as hepatites A e B. A vacina contra o tipo B também previne a hepatite D, já que esse vírus só infecta pessoas previamente contaminadas pelo B. A imunização faz parte do calendário infantil, com a primeira dose sendo aplicada logo após o nascimento. Gestantes não imunizadas também devem ser vacinadas, já que a doença pode ser transmitida da mãe para o bebê.
A vacinação tem tido impacto direto na redução dos casos. Entre 2013 e 2024, a taxa de detecção da hepatite B caiu de 8,3 para 5,3 a cada 100 mil habitantes. Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Renato Kfouri, a erradicação do vírus B é possível, desde que o país mantenha altos índices de cobertura vacinal.
A vacina contra a hepatite A também apresentou resultados expressivos. Após sua inclusão no calendário básico em 2014, os casos em crianças menores de cinco anos caíram drasticamente, de 903 em 2013 para apenas 16 em 2024. Em contrapartida, tem sido observado um crescimento na faixa etária de 20 a 39 anos, especialmente entre homens. Em maio deste ano, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação para usuários da PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV), após identificar surtos entre homens que fazem sexo com homens.
Para a hepatite C, o tipo mais comum e letal, ainda não há vacina. Em 2024, o país contabilizou 19.343 novos casos e 752 mortes diretas associadas. Apesar disso, há tratamento disponível no SUS, com medicamentos antivirais de ação direta que oferecem taxa de cura superior a 95%, desde que a infecção seja detectada precocemente.
O infectologista Pedro Martins reforça a importância do diagnóstico oportuno. “Se tratado no momento certo, o paciente pode ter uma vida normal. Mas, em casos não tratados, há risco de progressão para cirrose e câncer, mesmo sem consumo de álcool”, alerta.