Hospitais de transição são aposta para reabilitação de pacientes infectados pela covid-19

Levantamento aponta que curados da covid-19 podem ficar com sequelas graves da doença

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Hospitais de transição são aposta para reabilitação de pacientes infectados pela covid-19

Foto: Divulgação | Acervo/Clínica Florence

Mesmo após a alta médica, muitos são os cuidados que se devem ter com os pacientes curados pela covid-19. Devido às sequelas deixadas pela doença, se torna comum o surgimento de sintomas como dores de cabeça e musculares, perda da coordenação motora, tontura, comprometimento do sistema respiratório e problemas psicológicos. Como forma de auxiliar esses pacientes, os hospitais de transição têm sido uma aposta para ajudar na reabilitação dos pacientes pós covid-19.

Para ilustrar a necessidade de tratamentos após o período de internação, um estudo britânico mostrou que 45% dos pacientes que recebem alta hospitalar vão precisar de apoio médico e 4% vão necessitar de reabilitação intensiva sob regime de internação. Além disso, os pacientes que apresentam quadros mais graves da covid-19 têm mais chances de desenvolver problemas neurológicos (tontura, perda de consciência) do que aqueles que apresentam sintomas leves.

Segundo o médico intensivista e responsável técnico da Clínica Florence, Dr. João Gabriel Ramos, os sintomas mais comuns apresentados pelos pacientes curados da covid-19 são: problemas cardiorrespiratórios, como dificuldade de respirar, fadiga, redução da capacidade pulmonar; os neurológicos, dor crônica, alterações do raciocínio; e do humor (ansiedade; depressão; transtorno de estresse pós-traumático). De acordo com o  especialista, para o tratamento de cada paciente, uma equipe multidisciplinar realiza uma vasta avaliação para o diagnóstico e acompanhamento da pessoa assistida.

“Todo paciente admitido na Clínica Florence passa por uma avaliação multidisciplinar individualizada. Essa avaliação é realizada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos, psicólogos, nutricionistas, farmacêutico clínico e assistentes sociais. Com base nessa avaliação, que envolve parâmetros objetivos (exame físico, anamnese, escalas específicas de avaliação), mas também o alinhamento de valores e objetivos de cada paciente e familiar, são desenvolvidas metas terapêuticas específicas. A partir das metas terapêuticas, são desenvolvidas as estratégias de reabilitação, envolvendo toda a equipe multidisciplinar. Ao menos uma vez por semana, as escalas de funcionalidade são reavaliadas e a evolução clínica, assim como as barreiras encontradas, são discutidas de forma multidisciplinar e com a família, com potencial modificação das estratégias de reabilitação ou metas terapêuticas”, explicou o médico.

Tratamento do paciente é feito conforme avaliação da equipe multidisciplinar | Foto: Acervo/Clínica Florence 

Um levantamento feito pela Clínica Florence, localizada em Salvador, mostra que 87% dos pacientes que buscaram tratamento de reabilitação na unidade eram independentes antes da doença, ou seja, faziam atividades cotidianas sem necessidade de apoio. Todos deram entrada na clínica de reabilitação após passarem por um período de internação prolongada em hospitais, com uma média de 35 dias. Desse total, 63% apresentavam dependência funcional grave ou total no momento da admissão no hospital de transição. Apenas 37% tinham dependência leve ou independência total.

A importância da reabilitação também se dá pelo fato de que as sequelas podem surgir tanto para as pessoas que tiveram quadro leve da covid-19 quanto para aquelas que estiveram em situação mais grave. No entanto, o médico intensivista ressalta que as consequências mais graves podem se manifestar nos pacientes que ficaram mais tempo internados.

“Apesar de já estar documentado que pessoas com quadros leves possam ter sequelas de longo prazo, pacientes com internação prolongada geralmente têm maior risco de mais sequelas ou sequelas mais graves. Provavelmente, isso está relacionado ao fato de que a internação prolongada geralmente se dá por quadros mais graves da doença aguda, ou por complicações que tenham acontecido ao longo do internamento”, pontuou.

O especialista também explicou que mesmo com o tratamento de transição, alguns pacientes ainda podem apresentar consequências da doença. No entanto, ressalta que qualquer tipo de doença que leve a quadros mais graves precisam de tratamento por reabilitação, que vai garantir uma melhor qualidade de vida para os pacientes.

“Infelizmente, os dados evidenciados até o momento mostram que, mesmo com terapia aguda e reabilitação adequadas, ainda há o risco de sintomas e sequelas persistentes, de forma que a qualidade de vida dos pacientes que tiveram COVID, especialmente COVID grave, pode ser inferior no longo prazo. Essa característica não é exclusiva da COVID-19, sendo um achado encontrado na maior parte das doenças graves que levam a internação em UTI. Isso reforça dois pontos importantes: 1) a necessidade de que todo paciente que vivenciou um quadro agudo com redução de funcionalidade seja avaliado quanto à necessidade de reabilitação e 2) prevenir ainda é a melhor solução”, destacou o médico intensivista.

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