Incidência da doença do Alzheimer cai 16% a cada dez anos, diz estudo

Medicina mostra que demência pode ser previnida em quase metade dos casos

Por Da Redação
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Incidência da doença do Alzheimer cai 16% a cada dez anos, diz estudo

Foto: Reprodução/Getty Images

De acordo com um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a incidência do Alzheimer está caindo rapidamente nos países ricos, a um ritmo de 16% a cada dez anos desde 1988. Segundo a pesquisa, prevenção pode estar relacionada a educação e a saúde cardiovascular. As informações são do El País. 

Os cientistas que fazem parte da pesquisa acreditam que há dois suspeitos para o motivo.  Nos cérebros das pessoas com Alzheimer, uma proteína chamada beta-amiloide acumula-se entre os neurônios. E uma segunda proteína, chamada tau, forma novelos dentro das células cerebrais. Ainda não está muito claro o papel dessas moléculas na enfermidade. Considerar que estas proteínas são as responsáveis pelo Alzheimer é como chegar à cena de um crime e acreditar que o sangue é o culpado pelo homicídio, segundo define o neurologista David Pérez.

A busca por um tratamento, entretanto, esteve centrada em limpar a beta-amiloide do cérebro. Todos os fármacos experimentais fracassaram até agora, mas as autoridades dos Estados Unidos decidiram em 7 de junho autorizar um novo, o aducanumab, fabricado pelo laboratório norte-americano Biogen e vendido a um preço superior a 240.000 reais por paciente por ano. É a primeira vez que se aprova um tratamento que ataca as supostas causas do Alzheimer: o aducanumab limpa a beta-amiloide, mas não ficou demonstrado que isto implique um benefício clínico para os pacientes. Ainda não se sabe se funciona.

Segundo o patologisto Alberto Rábano, os erros de diagnóstico são uma das razões históricas para o fracasso na busca por um tratamento eficaz. “O Alzheimer nunca está sozinho. Temos que botar na cabeça que não basta diagnosticar o Alzheimer”, explica Rábano. Há no mundo 50 milhões de pessoas com demência, 65% delas com Alzheimer, segundo a Organização Mundial da Saúde. Mas há outras formas de demência, que frequentemente aparecem misturadas: a vascular, a por corpos de Lewy, as taupatias, a encefalopatia LATE. Rábano convida os cidadãos a se tornarem doadores de cérebro, para ajudar na pesquisa. Alguns ensaios clínicos talvez tenham falhado porque fármacos contra o Alzheimer foram testados em pessoas que não tinham só essa doença.

A neurologista Raquel Sánchez Valle, do Hospital Clínic de Barcelona, se mostra otimista. “Mudamos de fase na pesquisa do Alzheimer”, opina. Sua equipe participou do Engage, um ensaio clínico internacional com 1.650 pacientes para provar o polêmico aducanumab. Os resultados não foram conclusivos, mas a pesquisadora salienta que a eliminação da proteína beta-amiloide no cérebro de fato melhorou os indicadores associados à morte neuronal, embora não se chegasse a observar uma melhoria clara nos pacientes. “Precisamos de ensaios mais longos, de muito mais tempo”, explica.

O aducanumab é um anticorpo monoclonal: são as defesas naturais de um idoso lúcido multiplicadas em laboratório. Sánchez Valle recorda que nos próximos dois anos sairão os resultados de outros três fármacos experimentais similares: gantenerumab (da companhia suíça Roche), donanemab (da norte-americana Lilly) e lecanemab (da japonesa Eisai). “Não podemos pretender passar de não ter nada a curar o Alzheimer. O aducanumab é um primeiro passo. E muitas vezes o primeiro fármaco que chega não é o que fica”, aponta a neurologista.

Outros pesquisadores são mais céticos. O neurologista Michael Greicius, diretor-médico do Centro para os Transtornos da Memória da Universidade de Stanford (EUA), acredita que a aprovação do aducanumab pode inclusive atrapalhar a pesquisa de outros tratamentos. “Os pacientes estarão menos dispostos a participar de ensaios clínicos se já estiverem tomando um novo medicamento aprovado que acreditam que funciona”, alerta. O pesquisador recorda também que o aducanumab provocou edemas cerebrais em 40% dos doentes tratados com uma dose alta.

A presidenta da CEAFA, a socióloga Cheles Cantabrana, diz que a confederação recebeu “com alegria” a aprovação do aducanumab nos EUA. “O sofrimento que o Alzheimer provoca nas famílias é muito grande, e os custos são elevadíssimos. Há milhões de pessoas sofrendo. Vamos lhes dar uma chance, ou são pacientes de segunda categoria?”, pergunta-se Cantabrana, cujos pais morreram com demência. 

Uma comissão organizada pela revista médica The Lancet calculou no ano passado que modificar uma dúzia de fatores de risco pode evitar ou retardar 40% das demências. As 12 variáveis são: a falta de educação, a hipertensão, a incapacidade auditiva, o tabagismo, a obesidade, a depressão, a inatividade física, o diabetes, o isolamento social, o consumo excessivo de álcool, os golpes na cabeça e a poluição atmosférica. Na América Latina, o percentual evitável de casos de demência alcança 56%, segundo os mesmos autores.

A neurologista Raquel Sánchez Valle, de 50 anos, acha também que o tratamento chegará mais cedo do que se imagina. Os países do G-8 se comprometeram oito anos atrás a terem uma cura ou uma terapia efetiva contra a demência em 2025. “Não teremos uma cura em 2025, mas espero ver um tratamento eficaz antes de me aposentar”, afirma a médica. “E não será o aducanumab.”

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