MP-BA denuncia ex-diretora do presídio de Eunápolis por corrupção e envolvimento com facções
Joneuma Silva Neres está presa por facilitar fuga de 16 detentos da unidade prisional; segundo a investigação, ela mantinha um relacionamento amoroso com um dos fugitivos

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Joneuma Silva Neres, ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, é acusada pelo Ministério Público de corrupção, envolvimento com facções criminosas e de ter mantido uma relação amorosa com um dos detentos envolvidos na fuga da unidade em dezembro de 2024.
As informações estão no processo e foram divulgadas pela TV Bahia na quinta-feira (3). Joneuma foi indiciada por facilitar a fuga dos 16 detentos e está presa desde o dia 24 de janeiro deste ano.
Além dela, outras 17 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público, os 16 fugitivos e Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança do presídio, também preso.
Segundo a denúncia, desde que assumiu o cargo, em março de 2024, Joneuma chamou a atenção das autoridades pelas regalias dadas aos presos. Ela teria autorizado a entrada irregular de roupas, freezers, ventiladores e sanduicheiras.
Wellington Oliveira Sousa foi uma das pessoas que revelaram as irregularidades. Em um dos depoimentos, ele relatou que a gestora atendia a diversas exigências feitas, principalmente, por Ednaldo Pereira de Souza, o Dadá, um dos fugitivos.
Dadá é apontado pela polícia como chefe de uma facção de Eunápolis, que é ligada a outro grupo criminoso do Rio de Janeiro. Wellington disse que a esposa de Dadá "passou a ingressar no conjunto penal, sem qualquer inspeção, mediante autorização da diretora".
Romance com Dadá
Outros depoimentos anexados ao processo detalham que Joneuma e Dadá viveram um relacionamento amoroso com relações sexuais dentro do presídio.
Wellington chegou a mencionar que Joneuma e Dadá tinham "encontros frequentes, que ocorriam na sala de videoconferências, sempre a sós, com uma folha de papel ofício obstruindo a visibilidade da porta pela abertura de vidro".
A advogada de Joneuma nega a existência de um caso entre ela e Dadá. "A gente não sabe quem foi que articulou tudo isso, mas ela está sofrendo as consequências de um crime que não cometeu. Ela nunca teve nenhum relacionamento com essa pessoa", disse em entrevista à TV Bahia.
Já o advogado Artur Nunes, que também representa Joneuma, explicou por que alguns benefícios eram concedidos aos detentos. "Dentro de uma unidade prisional, a gente entende, vive muito de negociação, no sentido de manter, ao máximo, a ordem da unidade prisional, evitar problemas, [evitar] que conflitos entre eles ocorram", afirmou.
Quando foi presa, Joneuma estava grávida. O bebê nasceu prematuro e segue com ela na cela, no Conjunto Penal de Itabuna, no sul do estado. Em abril, ela protocolou um pedido judicial de auxílio financeiro para cobrir gastos com a gravidez contra o ex-deputado federal Uldurico Alencar Pinto, apontado por ela como o pai da criança.
Informações do processo, apontam que Uldurico foi visto muitas vezes visitando os presos em Eunápolis. Um policial penal disse em depoimento "ter conhecimento de que políticos ingressaram no conjunto penal, sem revista, inspeção ou cadastro prévio de visitantes", e citou o ex-deputado.
Em resposta, Uldurico Junior afirmou que não responde a nenhuma acusação e que tem pressa para fazer o teste de DNA do filho de Joneuma.
O que diz a Seap
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado (Seap) disse que jamais compactuou com qualquer privilégio concedido a internos custodiados no sistema prisional baiano.
A pasta pontuou ainda que participou ativamente com a Polícia Civil (PC) nas investigações e colaborou de forma irrestrita com a Justiça para punir todas as transgressões ocorridas no Conjunto Penal de Eunápolis.
Fuga
A fuga ocorreu há cerca de seis meses. Um grupo de homens armados invadiu o local, por volta das 23h, e trocou tiros com seguranças. Os detidos estavam em duas celas distintas, que foram abertas pelos homens.
O objetivo do grupo era libertar Dadá, apontado como chefe do Primeiro Comando de Eunápolis (PCE). Todos os foragidos também integram a organização, segundo a polícia.
No dia 16 de janeiro deste ano, um dos presos, identificado como Anailton Souza Santos, morreu após uma troca de tiros com policiais civis. Os outros 15 detentos seguem foragidos.
A Força Penal Nacional (FPN), coordenada pela Polícia Penal Federal, chegou ao presídio no dia 11 de junho, após o atual diretor do Conjunto Penal de Eunápolis, Jorge Magno Alves Pinto, ser alvo de um ataque a tiros no dia 20 de maio. As ações da FPN foram prorrogadas e seguirão por mais 30 dias.
Na última terça-feira (1º) um advogado foi preso durante a Operação Dupla Face, iniciada pela Polícia Civil em parceria com o Ministério Público da Bahia (MPBA), no município de Serrinha.
Ele é acusado de integrar o PCE e participar da articulação da fuga e do atentado direcionado a Jorge Magno. De acordo com as investigações, o advogado exercia papel ativo na estrutura criminosa, com envolvimento direto na gestão de recursos financeiros oriundos do tráfico de drogas, além de prestação de contas e cobrança de metas semanais de arrecadação.
Veja abaixo as identidades dos procurados:
1. Edinaldo Pereira Souza, conhecido como Dada;
2. Sirlon Riserio Dias Silva, conhecido Saguim;
3. William Ferreira Miranda;
4. Idario Silva Dias, conhecido como Darinho;
5. Isaac Silva Ferreira;
6. Thiago Almeida Ribeiro, conhecido como Pirata;
7. Romildo Pereira dos Santos, conhecido como Rô;
8. Altiere Amaral de Araújo, conhecido como Leleu;;
9. Fernandes Pereira Queiroz;
10. Giliard da Silva Moura, conhecido como Saruê;
11. Rubens Lourenço dos Santos, conhecido como Binho Zoião;
12. Valtinei dos Santos Lima, conhecido como Dinei;
13. Anderson de Oliveira Lima, conhecido como Magão;
14. Geifson de Jesus Souza, conhecido como Geu e Bode;
15. Mateus de Amaral Oliveira.