Natal é todo dia

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Por Erick Tedesco
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Natal é todo dia

Foto: Reprodução

À meia-noite do dia 25 de dezembro, enquanto a vizinhança festejar mais um aniversário de Jesus Cristo, a família de Elad Rosenthal apenas se reunirá em torno da mesa em que está posta a ceia. É assim todo ano, há décadas. Oram e comem, sem presentes e sem a mesma expressividade religiosa dos cristãos. “Jesus viveu entre nós e a religião cristã surgiu apenas depois da crucificação”, um dia contou-me o comerciante, que herdou do avô e o do pai a alcunha de “judeu baiano”.

O único Estado do mundo predominantemente judeu é Israel, no Oriente Médio, onde atualmente mora a irmã de Elad, Paulina. “Esta é minha ligação com Israel”, conta, sem mais. Ela foi para lá como bolsista da faculdade de Química, da USP, e neste período conheceu a pessoa que hoje é seu marido.

Elad, desde criança conviveu com árabes que também se radicaram na capital e cresceu amparado pela cultura judaica. Para aquela comunidade, o Natal é todo dia. “O espírito da data, que é o nascimento de Jesus, junto ao ato de saudar as pessoas e a vontade de mudar a rota da vida pode acontecer ao longo do ano”, explica, que aproveita o assunto para falar do quadro “A última Ceia”, de Leonardo Da Vinci, que é capaz de sintetizar o que o Natal significa ao judeu. “Aquela cena é a última páscoa judaica. Mostra Jesus, cujo verdadeiro nome é Joshua, o filho de Joseph, pregando a igualdade”.

A ceia de Natal da família, celebrada exclusivamente de forma festiva, têm comidas “religiosas”, como o peixe e o vinho. E a leitoa? “Se der uma brecha, eu como”, dizia em tom descontraído -  judeus não comem carne de porco, cavalo, camelo, coelho, caranguejo, lagosta e camarão.

Nem pensar em fazer qualquer ligação do Hanukkah (ou Chanucá) com o Natal, uma analogia que o irritava, cujas diferenças, dizia, levariam os oito dias de celebrações para serem explicadas.
 
E como um judeu convicto, Elad já esteve no Muro das Lamentações, o único vestígio do antigo templo de Herodes, o centro de culto e adoração do judaísmo na capital israelense Jerusalém. Muitos judeus visitam o local para orar e depositar seus desejos por escrito. “Também conheci Cafamaum, onde vivam os essênios, um povo desprovido de materialidade, como são as carmelitas”.

O judeu também conta que, lá em Israel, trilhou as 14 estações, a Via Crúcis, do Petrório de Pilatos até o Calvário, trajeto que Jesus percorreu carregando a cruz em que fora crucificado. No entanto, as idas ao Oriente Médio acontecem sempre próximas do mês de abril. “Não por questões religiosas, mas pelo clima, mesmo”, mais ameno no começo do ano. Para ele, ser judeu é um estado de espírito. “Quando fecundado, já existe uma pessoa lá dentro”, fala para legitimar a crença.

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