No 1º ano de autonomia do BC, presidente da instituição terá que explicar estouro da meta em 2021
O Conselho Monetário Nacional havia estipulado a meta de 3,75%, mas taxa ficou próximo aos 10%

Foto: José Cruz/Agência Brasil
No primeiro ano à frente do Banco Central (BC), o atual presidente, Roberto Campos Neto, terá que enviar uma carta pública ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando as razões para o descumprimento da meta. O Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) irá divulgar o índice oficial da inflação de 2021 na última terça-feira (11).
As projeções feitas no decorrer do ano de 2021 já apontam para um horizonte. As estimativas indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminou o ano em torno de 10%, um número bem acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,75%.
A escalada de preços na economia durante o ano passado superou a meta mesmo considerando o intervalo de tolerância, que resulta num teto de 5,25% e um piso de 2,25%.
Vale destacar que o estouro da meta se deu justamente no primeiro ano de autonomia do Banco Central - em fevereiro, foi sancionada a lei que prevê atuação autônoma da instituição, com mandatos fixos para a diretoria do BC, não coincidentes com o do presidente da República.
Caso o IPCA se mantivesse dentro do intervalo designado pelo CMN, Campos Neto não teria que dar justificativas. Como não foi o caso, a carta dele pode ser publicada hoje mesmo. Apesar de não haver um prazo estipulado para que ele faça isso, em diversas outras ocasiões em que isso ocorreu, o documento saiu no mesmo dia da divulgação do IPCA. Será a sexta vez que um presidente do BC terá de fazer este papel.
No decorrer do ano de 2021, o Banco Central elevou sucessivamente a taxa básica de juros (Selic), de 2% até os atuais 9,25% na tentativa de controlar a inflação. Em todas as decisões de aumento, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) destacaram o risco fiscal, subindo o tom a cada reunião.
As incertezas sobre gastos do governo, agravadas pela PEC dos Precatórios no segundo semestre de 2021, provocaram uma alta paulatina nas projeções de inflação, influenciando a decisão do BC de acelerar também a alta dos juros. Entretanto, a política monetária (de responsabilidade do BC) não foi suficiente para conter a alta dos preços, que não teve na política fiscal (de responsabilidade do governo) o mesmo combate.