Obsessão seletiva por vazamentos

Está em eminente curso uma espécie de força-tarefa nacional para que se torne pública o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, aquela que supostamente foi o estopim para o ex-juiz Sergio Moro logo pedisse demissão e também se tornasse ex-ministro.

Como autodefesa, Moro quer a divulgação na íntegra do vídeo, é o que seus advogados requerem ao Supremo Tribunal Federal (STF). Um esforço muito mais pessoal do que de interesse à nação para confirmar as declarações de que foi pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro a trocar o comando da Polícia Federal.

Moro tem respaldo de parte da imprensa, da oposição política ao governo e também ecoa na parcela da população, principalmente a militância virtual. O movimento é tão compassado que, quem diria, o ex-juiz tem ao seu lado inclusive o PT e Psol pleiteando a exibição pública do vídeo da tal reunião.

Mas a história política recente do país prova que esta obsessão pelo vazamento deste vídeo é uma obsessão seletiva, que leva em conta – e alimenta – uma polarização, muito mais do que ‘justiça’ - esta é uma cruzada exclusiva de Moro.

Lembremos que, em menos de dois anos, não se pleiteava com tanta voracidade para que viesse a público os áudios do celular confiscado com Adélio Bispo, autor confesso da facada contra o presidente Jair Bolsonaro. Ou, de meados de 2019 para cá, a imprensa agora combativa e a oposição não exigiram quebra de sigilo dos supostos áudios vazados ao The Intercept Brasil e as conversas do editor, Glenn Greenwald, com o hacker.

A investigação está em curso e devidamente nas mãos de órgãos competentes, com autoridade hierárquica suficiente para conduzi-la. É a esfera onde, a priori, o vídeo na íntegra deve circular, como de fato está, sem cortes. Qualquer outro movimento, agora, é desnecessária especulação alheia.