Pesquisa da Fiocruz traça raio de infecção em casos de febre amarela no Brasil
Segundo o Instituto, os dados obtidos poderão ser usados para o controle da doença no Brasil

Foto: Reprodução/O Tempo
Um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), sobre uma epidemia de febre amarela que ocorreu entre os anos de 2017 e 2019, no Brasil, revelou características importantes desse surto, que podem contribuir para o planejamento de ações de vigilância e controle do problema.
A pesquisa, publicada na revista científica Parasites and Vectors, cruzou dados sobre infecções humanas, de primatas e de vetores com análises das populações de insetos e características da paisagem no estado. As informações são da Agência Fiocruz de Notícias.
O mapeamento realizado aponta ainda duas características das populações de vetores associadas a maior circulação do vírus da febre amarela: a alta abundância dos Haemagogus e a baixa diversidade de espécies de mosquitos.
Os resultados das ações revelaram, de forma inédita, que 0% dos casos da doença humana foram registrados a uma distância de, no máximo, 25 km de um macaco ou mosquito infectado, sendo que 70% dos registros ocorreram em um raio de 11 km de um primata ou vetor com infecção – uma distância compatível com o alcance de voo dos mosquitos Haemagogus, identificados como os principais transmissores da doença na epidemia.
De acordo com os realizadores da pesquisa, os dados obtidos poderão ser usados de maneira estratégica para o controle do agravo no Brasil. Segundo os estudiosos, os resultados reforçam ainda mais a importância da vigilância de epizootias no combate à doença.
Dados obtidos afirmaram que no ciclo silvestre da doença, macacos infectados são picados por mosquitos, que adquirem o vírus e o transmitem para outros macacos. Os casos de infecção humana ocorrem quando as pessoas são, acidentalmente, picadas pelos insetos contaminados.
Segundo os cientistas, nas áreas rurais fluminenses com maior índice de casos de febre amarela, a paisagem é composta por pequenas florestas em topos de morros, cercadas por pastagens. Além da proximidade entre os trabalhadores rurais e a mata, a baixa biodiversidade contribui para a disseminação da doença.
O primeiro autor do estudo, Filipe Abreu, professor do IFNMG e doutor em Biologia Parasitária pelo IOC/Fiocruz, destacou que “Para prevenir surtos, é preciso manter a cobertura vacinal alta nas áreas onde há indicação e realizar a vigilância de primatas e mosquitos com muita atenção. Sempre que um macaco é encontrado morto, deve ser feita a coleta de amostras do animal e de vetores no local para investigar a circulação do vírus da febre amarela”
A pesquisa contou com uma ampla base de dados. As coletas de mosquitos foram realizadas antes, durante e depois da epidemia no Rio de Janeiro. Entre 2015 e 2019, os pesquisadores percorreram 84 pontos do estado, capturando mais de 17 mil mosquitos, de 89 espécies.
A Fiocruz informou que todo o trabalho foi realizado em parceria com o Ministério da Saúde e Secretarias estadual e municipais de Saúde, contribuindo para o enfrentamento da epidemia.