PF aponta “indícios robustos” de desvio de cota parlamentar envolvendo deputados do PL, diz decisão do STF
Investigação apura uso de empresas de fachada, lavagem de dinheiro e pagamentos “por fora”; deputados negam irregularidade

Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou uma operação da Polícia Federal contra os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ), suspeitos de desviar recursos da cota parlamentar verba pública destinada a custear despesas do mandato. A decisão foi assinada pelo ministro Flávio Dino, que apontou a existência de “indícios robustos” de crimes como peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, a PF encontrou R$ 430 mil em dinheiro vivo no apartamento de Sóstenes, em Brasília. O valor estava guardado em um saco dentro de um armário. Segundo os investigadores, a quantia é muito superior ao montante em espécie declarado pelo parlamentar à Justiça Eleitoral em 2022.
De acordo com a Polícia Federal, os deputados teriam usado servidores de indicação política para desviar recursos públicos por meio de contratos simulados de aluguel de veículos. A principal suspeita é que uma empresa contratada com verba da Câmara funcionava como fachada, permitindo o reembolso de despesas inexistentes ou irregulares.
A empresa Harue Locação de Veículos Ltda., por exemplo, está registrada em nome de uma mulher que recebeu auxílio emergencial, mas, segundo a PF, seria controlada de fato por um assessor de Carlos Jordy e familiares. A investigação indica que pagamentos feitos à empresa retornavam aos parlamentares.
Entre as provas reunidas estão movimentações financeiras consideradas atípicas, como saques e depósitos fracionados abaixo de R$ 10 mil — prática conhecida como “smurfing”, usada para evitar alertas do sistema financeiro. Também foram identificadas mensagens de WhatsApp que mencionam pagamentos “por fora”, além de conversas extraídas dos celulares dos investigados. Os sigilos telefônico e fiscal dos dois deputados foram quebrados, abrangendo o período de 2018 a 2024.
A PF também apura o uso irregular de veículos alugados com verba pública. Em um dos casos, um carro pago com recursos da cota parlamentar teria sido utilizado pela filha de Sóstenes, segundo os investigadores.
Em nota e declarações públicas, os deputados negaram irregularidades. Sóstenes afirmou que o dinheiro encontrado em seu apartamento seria fruto da venda de um imóvel e que não havia sido depositado por causa da “correria” do dia a dia. Ele não apresentou, no entanto, detalhes sobre a transação. Carlos Jordy disse ser alvo de perseguição política e afirmou que não cabe ao parlamentar fiscalizar a estrutura interna das empresas contratadas.
A investigação é um desdobramento da operação “Rent a Car”, deflagrada pela PF em dezembro do ano passado, que já havia mirado assessores ligados aos parlamentares. As apurações seguem em andamento para esclarecer a extensão do esquema e a responsabilidade dos envolvidos.


