A polêmica na Bienal do Livro no Rio de Janeiro foi um episódio de intolerância, acalorado de constrangimento. Tentar proibir a comercialização de uma História em Quadrinhos (HQ) por causa de uma cena de um beijo entre dois personagens masculinos (no enredo, em um relacionamento estabelecido) em Vingadores – A Cruzada das Crianças, mostra um prefeito da capital fluminense – Marcelo Crivella – insensível a debates intrínsecos à sociedade contemporânea e profundo desconhecimento do contexto que criticou.
Apesar do ‘Criança’ no título da publicação, o material é direcionado para adolescentes que, não raramente, neste mesmo tipo de literatura, tem contato com questões verdadeiramente sérias, como violência, mesmo que inserida dentro de um universo fantástico e caracterizada, na grande maioria das vezes, sem exageros e nada que vá causar repulsa ao leitor.
O universo das HQs não é imediatista como foi Crivella na sua tentativa de censura. Esta história, por exemplo, foi desenrolada ao longo de sete anos e, o beijo que causou polêmica a quem quer motivar polêmica, é uma das cenas finais da saga, uma troca explícita de carinho do casal de heróis. Isto é, se quer é uma literatura que debate de fato a homossexualidade.
Crivella tem todo o direito de ter suas convicções a respeito do tema, mas como prefeito e prefeito de uma das principais cidades do mundo, deve ter decoro e respeito à opção sexual de cada cidadão. Precisa, também, mais atenção antes de alçar uma polêmica e promover um constrangimento coletivo.
Não se trata, em absoluta questão, de perseguição pela orientação religiosa do prefeito do Rio. Ponderar a atitude de Crivella por um suposto preconceito por ele ser evangélico é descontextualizar um debate muito pertinente à sociedade; ou pior, negligenciar um assunto que, infelizmente, causa traumas e até mata.