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"Prometi que toda vez que eu subisse no palco, iria homenageá-lo", diz Paulinho Boca de Cantor sobre Moraes Moreira

Em entrevista ao Farol da Bahia, o artista conta a história de amizade e parceria com o cantor

Por Stephanie Ferreira
Às

"Prometi que toda vez que eu subisse no palco, iria homenageá-lo", diz Paulinho Boca de Cantor sobre Moraes Moreira

Foto: Reprodução

“Éramos irmãos cósmicos”, é dessa maneira que o cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor se refere ao homenageado do Carnaval 2023, Moraes Moreira. Em entrevista ao Farol da Bahia, Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira contou como a irmandade dos colegas da banda Novos Baianos foi criada, histórias inusitadas que demonstram a força da parceria além do legado do artista. 

“Eu prometi que toda vez que eu subisse no palco, depois que o Moraes Moreira se foi, que eu iria homenageá-lo, porque Morais foi um amigo de vida e de música” 

Farol da Bahia – Como aconteceu a amizade entre vocês? 
Paulinho – “Nós inventamos uma nova família, chamada Novos Baianos. Começou com um galpão, ele e eu. Nós somos os fundadores dos Novos Baianos. Nos encontramos na casa de um músico amigo aqui na Bahia, pela primeira vez, o músico José de Abreu, que por sinal era um músico que tocava na mesma orquestra que eu em 1963, ou seja, eu sou Boca de Cantor antes dos Novos Baianos. Então, o Moraes, o Galvão, o Naldo Baiano, essa grande família que nós criamos foi uma dádiva de Deus. Nós nos encontramos e não nos largamos mais. Então, é muito importante a participação de cada um na vida do outro. Ou seja, Moraes é importantíssimo pra minha vida, eu também sou importante pra vida dele, eu tenho certeza que nós nos víamos assim como mais do que irmãos, éramos irmãos cósmicos.”

Farol da Bahia – Paulinho, você o chama de irmão. Irmãos sempre têm histórias inusitadas para contar. Qual a de vocês? 
Paulinho – “Olha bem, são vários momentos marcantes. Uma vez, o Moraes foi de carona em São Paulo, pra você ver como a gente era irmão. Ele não tinha carteira de motorista e aí pegou o carro da gente e foi na casa de um parente dele lá perto de onde a gente morava, e na volta o carro derrapou e caiu dentro de uma casa. A senhora estava vendo televisão na sala e o carro caiu na sala da casa. Aí o Moraes fugiu do flagrante, saiu correndo. E chegou em casa e falou: “O carro caiu dentro da casa da senhora lá. Ela está louca”. Ele me chamava de ‘bouche’, que é a boca em francês, “você tem que me salvar, Bouche” Eu digo: “o que que você quer que eu faça?” Moraes me respondeu: “Vou ser preso, não tenho carteira de motorista”. Eu falei: “então me dá o seu casaco aí. Que eu vou lá”. Aí tomei a roupa que ele estava e fui lá, salvar ele. Quando cheguei a senhora olhava pra minha cara e dizia: “eu acho que não foi o senhor, não”. E respondia: “como não foi eu, minha filha, pelo amor de Deus, estou assustado até agora”. Enfim, um nível de amizade, de confiança, de irmandade. Era assim o tempo todo". 

Farol da Bahia – E essa amizade refletia também nos palcos?
Paulinho – “A gente falava muito da gente nas canções, desse amor, da gente viver a vida desse jeito que escolhemos pra fazer o som, fazer a música de um jeito inusitado. Eu não conheço outra banda que tenha vivido assim. O nosso mestre Guru João Gilberto dizia que a coisa que ele mais queria era ter uma banda assim dentro de casa. Ele tinha a maior inveja da gente nisso aí pelo menos”. 

“Quando a gente fez uma música infantil no Acabou Chorare, a censura chamou a gente lá pra explicar porque tinha ‘bumbum’ na música. Não era ‘bumbum’, era ‘no bu bu’. A gente ajudou a acabar com a ditadura. O próprio pessoal de esquerda, militante achava que a coragem da gente de estar na rua, de lutar por liberdade, de certo modo, ajudou a acabar com aquela repressão. Então, são histórias assim que a gente não pode deixar de contar e mostrar que isso tudo é o que fazia a gente ser mais do que irmão.” 

Farol da Bahia – E como foi a saída dele da banda? 
Paulinho – “Ah, foi um momento muito difícil para nós. Porque nós tínhamos um código de honra. A gente achava que não ia se separar nunca pelo o que nós vivemos, mas a vida não é assim. O sistema é bruto, as crianças começaram a nascer, a mulher dele que era naquela época a mãe do Davi e da Tita se sentiu muito complicada com as crianças lá no sítio onde a gente vivia que era tudo muito louco, muito à vontade. E como ela era carioca, a família dela morava no Rio. Então, o Moraes disse pra gente que ou ia morar lá (RJ) e continuar vindo aqui ou a gente separava. E como a gente tinha esse código de honra de que a gente ia sempre estar junto, foi uma separação muito drástica e fez mal tanto pra ele quanto pra nós, mas, no fim a gente continuou. Nós tivemos mais quatro discos depois dele. Em 1979, começou a acontecer com todo mundo o que aconteceu com ele. Os filhos crescendo, aí cada um foi pra sua carreira solo. E assim, deu esse hiato de dezessete anos, quase vinte anos, sem se apresentar junto. Só voltamos a nos apresentar e em 1997 e fizemos um CD. A história de Novos Baianos com a saída de Moraes foi essa, mas, nós nunca nos separamos. Muito pelo contrário, no meu primeiro pelo disco ele já participa. Ele teve uma carreira de muito sucesso mais do que os outros do grupo, mas nunca abandonou a gente. Sempre tivemos juntos.” 

Farol da Bahia – E vocês voltaram depois de um hiato de mais de dez anos. 
Paulinho – “Quando a gente voltou em 2016, o Moares me ligava dez vezes por dia, a gente se falava dez vezes por dia ao ponto da minha mulher, dizer assim “seu namorado está no telefone”. A gente pensava junto. Tínhamos ideias juntos e curtimos muito, demos muita risada. Muita risada mesmo. Graças a Deus.”

Farol da Bahia – Fora dos palcos, qual era a principal característica do Moraes Moreira? 
Paulinho – “Olha, primeira característica do Moraes era a perseverança. Moraes aprendeu violão em pouco tempo de aula com o Tom Zé aqui na universidade e era um dos melhores violonistas brasileiros. Então, era a grande característica dele, da concentração pra fazer a música. Eu fiz uma poesia outro dia pra ele que acaba assim: toda vez que o verso virar canção é de você que nós vamos lembrar meu irmão. Porque ele era um aficionado não só no violão como nas composições. Então, isso é uma coisa fantástica. Depois, na própria vida pessoal as pessoas pensavam que ele era reservado, fechado, mas era um moleque descarado, dava risada, adorava namorar as mulheres como todo mundo, né? Então, às vezes as pessoas olhavam aquela timidez dele, mas, aquilo era só uma defesa porque a gente se divertia muito, brincava muito e éramos, vou falar uma palavra que o baiano usa uma esculhambação”. 

Farol da Bahia – Como ficou após a partida do Moraes? 
Paulinho – “Então, a falta que o Moraes faz só é preenchida porque a gente se encontra todo dia. Nos encontramos na música, nos encontramos nas histórias, nos encontramos nas boas risadas que demos na vida, nos encontramos nos momentos difíceis que passamos. Ou seja, é um tempo que me encantou, é um tempo que está aí e que vai estar sempre. Não só o Moraes, mas o Galvão também que é o criador das grandes letras dos Novos Baianos que também não está mais entre nós. A gente não vai deixar de homenagear esse pessoal nunca.”

Farol da Bahia – Neste ano, o Moraes Moreira é o homenageado do Carnaval 2023. Como você vai participar dessa homenagem?
Paulinho – “Vou cantar os grandes sucessos do Moraes Moreira e queria falar que eu não vou homenagear só o Moraes dos Novos Baianos, mas o Moraes do Carnaval, Moraes do MPB, o legado maravilhoso que esse grande artista baiano deixou não só para o Brasil, mas pra o mundo. Eu não sei se vocês já viram, mas tem vídeo de uma orquestra japonesa tocando ‘Festa do Interior’, isso mostra como a música voa, como Moraes Moreira é eterno por causa dessas coisas e por causa dessas homenagens, desse legado fantástico que ele deixou. Por isso que eu digo que toda vez que eu subir ao palco, seja como Novo baianos ou na minha carreira solo, eu vou tá homenageando meu irmão de vida e de música. “

Farol da Bahia – Como você enxerga esse legado?
Paulinho – “Esse legado que passa de gerações a gente fica muito feliz porque agora mesmo em 2016, a gente foi reinaugurar a Concha Acústica e 99% do público era jovem. E quem gosta dos Novos Baianos, gosta dessas histórias que eu estou contando, gosta desse coletivo, gosta desse jeito que a gente fez o trabalho junto, não só de uma música, gosta do todo, da filosofia de vida, da nossa história então é por isso que não passa. Quando você faz música, no ano seguinte ninguém lembra mais dela. Agora quando você faz história vão lembrar da sua música pra sempre’.

Moraes Moreira

O cantor e compositor Moraes Moreira morreu no dia 13 de abril de 2020, aos 72 anos, em casa, no Rio de Janeiro. Ele foi vítima de um infarto agudo do miocárdio.

Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, em 8 de julho de 1947. Estudou Música na Universidade Federal da Bahia.  Em 1968, o grupo criou o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos. Ele ficou na banda de 1969 até 1975, quando seguiu para carreira solo.

Carnaval
Durante a folia, Paulinho Boca faz homenagem a dois grandes nomes da música popular brasileira: Osmar Macedo e Moraes Moreira. Com o show "Moraes Moreira, os Novos Baianos e o Carnaval", ele se apresenta na Praça Castro Alves, no Rio Vermelho, no Campo Grande e no Pelourinho, com um repertório que vai "desde os tempos da velha fobica" e seus frevos, passa pelos iluminados anos de Novos Baianos e chega até as canções do maior compositor de "música pra pular brasileira".
Veja a programação completa:

Sábado (18), às 17h30, Trio parado na Praça Castro Alves.

Sábado (18), às 00h, Espaço Mix no palco do Rio Vermelho, Largo da Mariquita. 

Domingo (19), às 17h, palco no Campo Grande.

Domingo (19), às 22h30, Axé Pelô, Largo da Tieta. 

Terça-feira (21), às 20h, Palco do Largo do Pelourinho – 20h
 

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