Semana Mundial de Conscientização Microbiana alerta para riscos da automedicação com antibióticos
Especialistas advertem que ação pode fortalecer bactérias e favorecer infecções cada vez mais resistentes a remédios

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Nesta quinta-feira (18) começa a Semana Mundial de Conscientização Microbiana. A jornada de eventos e iniciativas de entidades médicas segue até o dia 24 e tem como foco principal alertar para práticas que dificultam o combate a bactérias, vírus e parasitas, entre elas a automedicação com antibióticos.
A Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp) destaca que se automedicar com antibióticos pode causar o fortalecimento das bactérias no corpo. Isso favorece as infecções que podem ficar cada vez mais resistentes aos remédios. As infecções de bactérias muito resistentes são mais comuns e preocupantes.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), relativos a 2019, cerca de 700 mil pessoas morrem por esse tipo de infecção anualmente. Com base nesse número, a estimativa é que, até 2050, esse tipo de problema possa resultar na morte de até 10 milhões de pessoas.
Segundo a Sobrasp, apesar de ser necessária uma receita para a compra dos antibióticos, muitas pessoas não utilizam toda a quantidade de comprimidos que vem na caixa do medicamento e acabam guardando para empregá-lo em outras situações, como no caso de uma gripe. No entanto, conforme a entidade, 90% dos casos de rinosinusites são causados por vírus e não demandam o uso de antibiótico para o tratamento.
Fortalecimento de bactérias
A médica infectologista Cláudia Vidal, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretora científica da Sobrasp, afirma que o uso contínuo ou prolongado de antibióticos pode acabar provocando o fortalecimento de bactérias.
“O grande problema é que, quando usamos, ele vai matar as bactérias, mas é um fator de risco, pois as bactérias que sobrevivem são resistentes e vão começar a se multiplicar naquele fator de risco. O contato das bactérias com o antibiótico faz com que o gene do organismo comece a se expressar e aí ele muda mecanismos da bactéria e o antibiótico não consegue mais agir”, explicou.
A Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente destacou que é importante também que os profissionais de saúde realizem um diagnóstico preciso a partir de avaliações clínicas. Ela pondera que a dificuldade de acesso a condições nas unidades de saúde para a realização de exame e consultas pode alimentar um cenário de automedicação.
Segundo a Sobrasp, para evitar atitudes que possam fortalecer de alguma maneira a resistência microbiana é importante não utilizar antibióticos mais do que o prescrito pelos médicos.
Outra recomendação é não usar sobras de antibiótico, a não ser que essa aplicação tenha sido recomendada por um médico para uma nova condição de saúde. Ainda de acordo com a Sobrasp, o ato de tomar medicamentos deve ocorrer a partir da indicação médica, e não de familiares, amigos ou conhecidos.
Cláudia Vidal acrescentou que prevenir infecções é outra forma de evitar o risco de ter um problema que possa agravar o quadro de saúde. A higiene das mãos, tão popular na pandemia, é um dos hábitos. E nos serviços de saúde é importante evitar que, durante os procedimentos, haja conduta que facilite a infecção no ambiente hospitalar ou ambulatorial.