Sobre cruzar memórias afetivas

[Sobre cruzar memórias afetivas]

FOTO: Divulgação

O café da manhã é prático, desajeitado, só que apetitoso num gole como reverência ao primeiro dever consigo mesmo do dia. Vem, também, com um abraço, que às vezes é um chacoalho, além do relógio gritando, te fuzilando sonoramente para não perder o horário formal. O meio disso são os primeiros mexer de pratos e copos na mesa do café da manhã, sob uma refrescante sombra ali no quintal.

Vejamos, passe-me o café, por favor? O café preto é um clássico. Não, não tomava o fortíssimo quando criança, poxa, como competir com o saboroso leite quente com achocolatado? No entanto, aplaudimos o gosto pelo café nas sociedades de séculos atrás. É um dos prazeres da vida, de certo. Quero também o açúcar, evidente. Sem frescura.

O ato do café da manhã ganhou outro sabor após minha primeira ida à histórica cidade mineira de Ouro Preto, viagem das mais revigorantes já vividas. As longas caminhadas, às vezes de subidas e descidas, os lugares visitados e mesmo da enfim cama para descansar, de modo justo e preguiçoso, assim como o desertar matinal gastronômico servido em uma mesa farta da pousada.

O caráter histórico da cidade é latente. Os resquícios do passado estão nas pedras, mas também na sua gente. Os árduos dias de Brasil colônia tinham estas terras como fonte de riqueza e todas as incursões, no mínimo, desgraçadas e saqueadoras missões em meio ao bárbaro e ainda desqualificado, na sociologia.

A corrida do ouro, que nos deixa uma questão: a Igreja, lado a lado ao Estado para predizer o que é a América, fixava cada vez mais terreno no Novo Mundo. Era, graças, mais uma vontade divina contemplada. Cooperou para Portugal levar as riquezas da terra e, em contrapartida, ficou com uma quantia muito grande de metais preciosos do garimpo e, em pleno 2011, legitima-se na História e escancara ainda ser uma instituição, ou empresa, que tem e fatura uma incontável quantia de riqueza e poder.

A escravidão do negro, do índio, do brasileiro e de qualquer homem dali mediante o europeu, nem tão branco assim. Teorias raciais ainda eram primárias e de provetas e a questão era mesmo na relação baseada em medo, arma de fogo, tortura, morte e desdém. Foram os subjugados, os mestres de obra das monumentais e bonitas igrejas, mas também de obras nos respectivos interiores, em vias públicas, em casinhas lá no horizonte e o caminho da roça.

Com os anos, os prazeres têm laços reforçados em singelos movimentos, descolamentos e decisões. Trazer afetividade às lembranças é, mesmo, satisfatória como o primeiro gole de café logo de manhãzinha.


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