[Soma de princípios]

FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A famigerada expressão estadunidense “We the people” (Nós, o povo), facilmente encontrada em jornais, publicidades, fundações e em espaços públicos, é a cerne da constituição dos Estados Unidos. Boa parte do orgulho daquele povo reside nesta breve frase escrita há mais de 200 anos, às vezes um tanto enfadonha, mas, ainda assim, capaz de aproximar a política das pessoas comuns. Um tanto majestoso, entretanto, muito bem colocada nas normativas republicanas dos “Estados Unidos da América”.

E o Brasil, enquanto república federativa americana desde 1889, ao menos em termos de história oficial do país, tem seu povo como núcleo do sistema político que rege a nação? Teoricamente, e escrito em pomposos tratados, sim, mas tantas atrocidades antidemocráticas que mancharam – e mancham – a história nacional posicionam o povo brasileiro onde o pintor Pedro Américo os colocou no quadro “Independência ou morte”: à margem dos grandes acontecimentos, abestado, incoerente com uma realidade elitizada.

As movimentações populares são esperadas e necessárias no processo de escolha de representantes do Executivo e do Legislativo, assim como na manutenção destes agentes. Atos públicos, correntes lançadas na internet e até mesmo as conversas informais em defesa a governos e medidas estipuladas, são indícios de que o povo quer cumprir direitos e deveres, que é votar ou então negá-lo com cidadania.

Não há dúvida: a democracia é um processo de divisão e participativo do poder e passa pelo debate, mesmo que longe de se atingir uma verdade inabalável. O debate é fundamental porque é a soma de princípios, cujo limite é o direito do outro de se expressar livremente. 

No entanto, a racionalidade ainda é, lamentavelmente, uma capacidade intelectual adormecida na grande parcela da população. No Brasil, não se teve formação de uma cidadania plena, segundo pensadores como Milton Santos e Sérgio Buarque de Holanda e não raramente é plausível fazer analogias do que acontece em dias atuais à estrutura nos moldes de Casa Grande e Senzala, isto é, onde o político é tido mais como um senhor do que um representante.

E é justamente num cenário sem participação popular que a corrupção se embrenha e revive mais uma herança do nosso passado colonial. Política é a negociação da convivência e tratativas são necessárias em todas as esferas da vida. A sociedade precisa, cada vez mais, somar princípios, entender o jogo político e ser, de fato, ativa naquilo que tem direito para um Brasil em reconstrução.


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