Entre desabafos, lamentações e repetições, o ex-ministro Sergio Moro deu um depoimento confuso, técnico e cauteloso em demasia no último dia 2 de maio à Polícia Federal, em Curitiba. E tudo literalmente acabou em pizza, como se camaradas que se reuniram num sábado à tarde para conversas fiadas.
O longo depoimento deixa claro: não há clareza qual suposto crime Moro tenta colocar no colo do presidente Jair Bolsonaro a partir do estardalhaço da saída do ex-juiz – agora também ex-ministro – do governo federal.
Moro, no sábado de pizza, falou em pressão para mudar diretorias na Polícia Federal, falou em negociatas de eventuais mudanças, austeridade no seu ex-ministério e, ainda, destilou “quem falou em crime foi a Procuradoria-Geral da República na requisição de abertura de inquérito”, além de jogar a batata quente para outros ministros.
Um discurso político. Moro, a todo momento, comedido nas palavras e técnico nos juízos, se esquiva de eventualmente ser instrumento em um processo contra o presidente. Não se pode perder de vista que ele também é investigado.
Certas afirmativas extremamente defensivas: “narrou fatos verdadeiros, mas em nenhum momento afirmou que o presidente da República cometeu crime”. De maneira alguma quer ter este peso nos ombos daqui para frente.
Mas Moro já carrega um fardo após o depoimento do sábado de pizza: caso não comprove qualquer acusação, poderá ser responsabilizado por calúnia e denunciação caluniosa.