Tombo do setor de serviços traz preocupações, mas pode ter aspectos positivos
Queda na atividade do setor de serviços pode contribuir para aliviar a inflação de serviços e auxiliar na trajetória de redução da taxa de juros

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil
A redução de quase 1% no volume de serviços no Brasil em agosto foi surpreendente para a maioria dos analistas, que esperavam o quarto aumento mensal consecutivo do indicador divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada.
De acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), houve uma queda de 0,9% no setor em agosto, a maior retração desde abril deste ano. Essa queda, juntamente com o recuo do comércio varejista, indica uma desaceleração econômica no segundo semestre, o que preocupa o governo.
No dia 20 de outubro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), que é uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do país, apontou uma queda de 0,77% em agosto.
Apesar da preocupação com o resultado abaixo das expectativas, a queda no setor de serviços pode ter um aspecto positivo, pois pode aliviar os preços e ter um efeito positivo na inflação de serviços, indicam especialistas do setor.
“Se os serviços estão desacelerando, isso nos sugere um processo de desinflação mais duradouro, o que é muito positivo. Na verdade, nós já estamos vendo essa inflação mais benigna ao longo do ano. Hoje, a inflação abaixo do teto da meta já é uma realidade. Não é absurdo projetarmos uma inflação de 4,5% em 2023. A foto do momento, de fato, é muito boa”, afirma Igor Cadilhac, economista do PicPay (ex-Banco Original), ao Metrópoles.
Tradicionalmente, os preços no setor de serviços estão relacionados ao nível de ociosidade da mão de obra. No entanto, atualmente, observa-se uma desaceleração da inflação, mesmo com um mercado de trabalho aquecido. Especialistas apontam que uma possível explicação para esse fenômeno é o efeito das reformas macroeconômicas aprovadas nos últimos anos, que aumentaram a capacidade da economia de criar empregos sem elevar a inflação.
“Uma das explicações é que a reforma trabalhista (aprovada em 2017) talvez esteja começando a surtir efeito. Agora está mais barato para o empregador contratar. Muito por causa disso, a inflação de serviços vem se mostrando saudável”, explica o economista. “Ainda precisamos entender se realmente tivemos um ponto de inflexão na atividade de serviços. Hoje, ainda vemos um bom desempenho do setor no segundo semestre, sem grandes consequências nos preços”, pondera.