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7 em cada 10 casos de violência doméstica têm testemunhas; maioria é criança

Os dados apontam ainda que 40% das testemunhas adultas não tomam nenhuma atitude para ajudar no momento da agressão.

Por FolhaPress
Às

7 em cada 10 casos de violência doméstica têm testemunhas; maioria é criança

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A violência contra a mulher segue em alta no Brasil, como mostram pesquisas. O novo levantamento da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher aponta que, entre os casos de 3,7 milhões de brasileiras que declararam ter vivido violência doméstica ou familiar nos últimos 12 meses, 7 em cada 10 aconteceram na presença de outras pessoas —as testemunhas, em geral (70%), são crianças.

A pesquisa foi realizada, em 2025, pelo Instituto DataSenado e pela Nexus, em parceria com o OMV (Observatório da Mulher contra a Violência). Para isso, foram entrevistadas 21.641 mulheres a partir de 16 anos, que vivem no Brasil. A margem de erro é de 0,69 ponto percentual para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Os dados apontam ainda que 40% das testemunhas adultas não tomam nenhuma atitude para ajudar no momento da agressão.

Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, afirma que os dados mostram que ditados populares, como "em briga de marido e mulher não mete a colher", continuam refletindo a realidade. "Muitas pessoas ainda acreditam naquele ditado, de que [diante da] violência, você não deve interferir. Isso já é um dado preocupante".

Em relação a presença de crianças no momento da violência, Oliveira destaca que as agressões acontecem em frente de crianças, na maioria filhos da vítima. "O próprio filho está crescendo em um ambiente onde essa violência está acontecendo diante dos olhos dele".

Oliveira ressalta também que a maioria dos casos aconteceu quando a mulher tinha menos de 30 anos. "O combate à violência contra a mulher tem que entrar nas casas, tem que começar na educação infantil, para que as crianças e as próprias mães que são vítimas de violência vejam que aquilo não é normal".

Ao longo do tempo, a violência física se manteve mais ou menos em nível constante. Na pesquisa, 81% das mulheres que sofreram violência declararam violência física.

"Outro tipo de violência, que é a psicológica e a moral, tem aumentado ao longo dos anos, mostrando que as mulheres, aos poucos, vão se dando conta que existem outros tipos de violência além da física e sexual", aponta o pesquisador.

Além disso, o levantamento aponta que, diante da violência, as vítimas costumam buscar ajuda longe das autoridades estatais. Entre elas, 58% afirmam que buscaram apoio na família, 53% na igreja e 52% contaram para os amigos. Os serviços públicos aparecem em segundo plano, apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% afirmam que procuraram o Ligue 180.

Mais da metade das entrevistadas (58%) relatou viver situações de violência há mais de um ano, o que evidencia a persistência do ciclo de agressões e a dificuldade de rompê-lo.

A pesquisa mostra que, em muitos casos, medo, dependência econômica e falta de redes de apoio impedem que essas mulheres interrompam o abuso. Assim, a repetição da violência, somada a falta de compreensão do que é agressão, mantém milhares de brasileiras presas em relações marcadas pela dor e pela omissão, dentro de casas onde a violência já não deveria ser a regra.

Entre a parcela da população que mais sofrem com a violência doméstica, que ganham menos e têm menor escolaridade têm maior desconhecimento sobre os mecanismos de proteção contra essa violência. A pesquisa mostra que o percentual de quem não conhece a lei é maior entre brasileiras analfabetas (30%) e que têm apenas o ensino fundamental incompleto (20%) do que entre as mulheres com ensino superior completo (3%) ou incompleto (4%).

"Quanto mais conhecemos sobre como acontece essa violência e o que está ao redor da violência da mulher, melhor poderemos fazer políticas públicas", diz Oliveira, que aponta que o objetivo dos números apresentados pela pesquisa é ajudar a diminuir as taxas de feminicídio. "Se essa violência é impedida logo no início, não vai chegar ao seu desfecho mais triste".

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