Cientistas de Harvard descobrem indicador precoce para o desenvolvimento do Alzheimer
Estudo mapeou a bioquímica e anatomia do cérebro de 174 pacientes do transtorno neurológico

Foto: Anna Shvets/Pexels
Cientistas da Universidade de Harvard publicaram um artigo na revista Science Translational Medicine na quarta-feira (22) que aponta um caminho promissor para antecipar uma detecção do Alzheimer. A doença provoca falhas de memória e perda cognitiva, e tem desafiado médicos há anos por ser difícil de diagnosticar em estágios iniciais.
O estudo mapeou a bioquímica e anatomia do cérebro de 174 pacientes do transtorno neurológico. O grupo de pesquisadores é liderado pelo cientista Heidi Jacobs, no Hospital Geral de Massachusetts (ligado à universidade de Harvard). A pesquisa relacionou uma pequena estrutura cerebral, o locus coeruleus - literalmente "local azul" em latim - ao mecanismo do Alzheimer. Essa região localizada no tronco cerebral já estava lista das subestruturas suspeitas de estarem envolvidas no mecanismo da doença.
Por ser uma região muito pequena, medindo uma faixa de 2 mm por 12 mm de largura, os cientistas não conseguiam vê-la muito bem usando máquinas convencionais de imagem cerebral. Mas no artigo publicado Jacobs e sua equipe falam ter conseguido encontrar a correlação entre a má preservação do locus coeruleus e o desenvolvimento do Alzheimer por meio de aparelhos de ressonância magnética de alta resolução.
A fim de validar o achado, o grupo também analisou detalhadamente o cérebro de mais de duas mil pessoas que foram acometidas pela doença e que já tinham morrido. Eles avaliaram também uma bioquímica cerebral dos pacientes em detalhes, buscando sinais conhecidos do Alzheimer.
O Alzheimer e as moléculas tau e beta-amiloide
Os cientistas concordam que o Alzheimer está relacionado ao acúmulo de duas proteínas em regiões do cérebro, chamas de beta-amiloide e tau. Essas duas moléculas adquirem uma estrutura bioquímica errada nas pessoas portadoras da doença, o que atrapalha o trabalho de limpeza que é feito no sistema nervoso, eliminando as proteínas que não estão sendo usadas mais.
Usando o PET scan, tecnologia de imagem cerebral de última geração, os cientistas conseguiram mapear o acúmulo da proteína tau no locus coeruleus, os cientistas conseguiram estabelecer uma correlação entre sintomas de perda cognitiva e a presença da forma maligna dessa proteína não apenas nesse organoide cerebral, mas em outras áreas do sistema nervoso.
Jacobs e seus colegas de trabalho concluíram que essas "descobertas estão alinhadas com os dados de doenças neurológicas nos quais o acúmulo de tau no locus coeruleus se relaciona à progressão da doença", e que isso o identifica "como um indicador promissor dos processos iniciais relacionados ao mal de Alzheimer e das mudanças de trajetórias cognitivas em estágio pré-clínico (anterior ao diagnóstico) da doença”, afirma o estudo.
Os cientistas explicam que faz sentido o locus coeruleus ter um papel tão grande no mecanismo biológico da doença, já que essa região cerebral é responsável pela produção de um grande volume de norepinefrina, um dos neurotransmissores que o sistema nervoso usa na comunicação entre seus diversos componentes, mesmo sendo tão pequena.
A capacidade do maquinário usado na pesquisa atualmente não está à disposição de convencionais, explicam os cientistas, mas com a evolução natural dessa tecnologia é possível que a próxima geração de equipamentos comerciais já contem com essa precisão.


