Com risco fiscal em alta, título do Tesouro já paga juro real de 6%
No início do governo Bolsonaro, as taxas estavam em 4,76%

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Com a percepção de aumento do risco fiscal, o mercado financeiro está exigindo juros mais altos para comprar os títulos do governo de longo prazo.
Depois da tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) “Kamikaze”, com aumento de R$ 41 bilhões das despesas fora do teto de gastos, o Tesouro Nacional aceitou pagar ontem juros de 6,17% para vender os seus papéis atrelados ao IPCA, as NTN-Bs, com prazo de vencimento de 40 anos, o mais longo da dívida pública doméstica. Os papéis com prazos curtos e intermediários também foram vendidos com taxas muito mais salgadas para o Tesouro diante da ameaça de inclusão na PEC de aumento adicional de gastos. Essa alta na remuneração paga pelo governo para se financiar é uma oportunidade para o investidor).
No início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, as taxas estavam em 4,76%. Elas chegaram a cair para um patamar mais próximo de 3% no final do mesmo ano com a aprovação da reforma da Previdência. No final de 2014, véspera da posse de Dilma para um segundo mandato, quando o mercado já estava bastante desconfiado da sustentabilidade das contas públicas no mandato que se iniciaria, as taxas dos títulos com prazo semelhante estavam em 6,17%.
Os juros reais (descontada da inflação) dos papéis com vencimento longos são um importante indicador da confiança dos investidores no futuro do País porque mostram um cenário muito além do atual ciclo de alta dos juros. As taxas de juros longas atuais indicam que os investidores parecem ter a mesma desconfiança daquela época.
O risco-país do Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), disparou nos últimos dias e hoje chegou a 302 pontos. Já a média de Chile, México, Colômbia e Peru está em 180 pontos. O CDS é uma espécie de 'seguro calote', que funciona para o mercado como um termômetro de risco entre as economias. Quanto maior o CDS, maior é o risco de se investir naquele país.