Hábitos de higienização e cuidados adotados na pandemia limitam 'germes do bem'
Microbiota humana são necessários para ajudar na recuperação de outras doenças

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Uso do álcool em gel, máscaras e adoção do distanciamento social são fundamentais para evitar a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), mas esses hábitos também limitam a aquisição de germes "do bem". Essa é uma questão levantada por cientistas e estudiosos da microbiota humana, que se perguntam se as pessoas estão ficando limpas demais.
A microbiota humana é o nome que se dá ao conjunto de microrganismos que habitam no corpo. Eles são invisíveis aos olhos e é composto por bactérias, vírus e fungos. Esses "moradores" são ganhos e perdidos ao longo da vida, isso porque o local de moradia, clima, alimentação e o sono interferem na sobrevivência dos microrganismos.
O estudo é desenvolvido pelos pesquisadores B. Brett Finlay, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), e Tamara Giles-Vernick, do Instituto Pasteur (França), em um artigo recém-publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Para Finlay, a prática de higiene afeta os micróbios bons e maus, e se intensificada, pode acabar prejudicando a capacidade do indivíduo enfrentar outras doenças posteriores. Ele ainda frisa que um microbioma não é capaz de prevenir doenças infecciosas sozinho, mas ajuda a superá-las.
Os estudiosos alertam que as autoridades deveriam pensar em como proporcionar o contato com ambientes de micróbios saudáveis, a exemplo de espaços ao ar livre, onde é possível estar perto da natureza, sem deixar de manter o distanciamento social.
A pesquisa ainda está sendo realizada, mas já aponta preocupação com o grupo dos bebês, porque essa é a fase que se dá a formação mais importante da microbiota. Durante a pandemia, os bebês estão em um ambiente controlado, sem contato com outras pessoas, sem lazer ao ar livre, e isso pode ocasionar doenças alérgicas e autoimunes.
"Essas são doenças de longo prazo, ainda vai levar um tempo. Se os micróbios de recém-nascidos são afetados, isso não aparecerá como asma e ganho de peso antes dos três ou até cinco anos de idade. O primeiro passo é descobrirmos se os micróbios foram impactados, e, se for o caso, pensar em modificá-los, para evitar potenciais condições crônicas", diz Finlay.