Pesquisadores brasileiros descobrem mecanismo ligado a formas graves da Covid-19
Estudo explica porque parte dos infectados desenvolve inflamação fatal

Foto: Agência Brasil
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostra que a forma grave da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, está associada ao desequilíbrio em uma importante via de sinalização do sistema imune. O estudo, publicado na revista Frontiers in Immunology, ajudar a explicar em nível molecular por que parte dos infectados desenvolve uma inflamação sistêmica potencialmente fatal.
No artigo, os pesquisadores identificaram a ocorrência de uma desregulação no sistema de sinalização da resposta imune mediada por moléculas de ATP (trifosfato de adenosina), uma das principais fontes de energia para a realização dos processos celulares. Além de apresentarem maior quantidade de ATP no sangue, pacientes com a forma grave da doença tinham menor quantidade de adenosina, molécula gerada a partir da degradação do ATP.
Esse aumento de ATP não degradado, segundo o artigo, resulta em um status pró-inflamatório que desencadeia a chamada tempestade de citocinas, uma inflamação sistêmica potencialmente fatal. “O estudo mostra que, além de contribuir para o desequilíbrio do sistema de sinalização, ocorre uma disfunção na regulação desses componentes. É mais um dos fatores que vão atuar em nível sistêmico ou nos órgãos acometidos pela Covid-19 grave”, explicou Maria Notomi Sato, professora da Faculdade de Medicina da USP e coautora do estudo, em entrevista ao jornal Estadão.
O ATP é uma molécula que está constantemente sendo produzida pelas células e é degradada no ambiente extracelular por enzimas chamadas ectonucleotidases. No estudo, os pesquisadores dosaram a quantidade de moléculas de ATP e de adenosina em amostras de sangue de 88 pacientes com Covid-19 grave. As amostras foram coletadas entre 2020 e 2021 e, portanto, nenhum dos participantes havia sido vacinado.
“Identificamos que as ectonucleotidases presentes na superfície celular e que são responsáveis por clivar o ATP estavam menos expressas nas células de pacientes com covid, isso principalmente na forma grave da doença. Identificamos, inclusive, uma relação: quanto mais ATP, maior a gravidade da doença”, afirmou a pesquisadora Anna Pietrobon, em entrevista ao jornal.